Editorial

Gênero que teve seu ápice no século XIX, o romance atravessou os últimos 100 anos sob constante ameaça, primeiro com o advento do cinema, depois da TV. Mas, após ter sua morte decretada inúmeras vezes, por críticos e escritores, o romance chega ao século XXI mantendo seu status de mais popular gênero literário. Em uma época de incertezas, em que a falta de tempo é a melhor desculpa para o consumo do efêmero, as longas narrativas ainda dão o tom quando se pensa em literatura. Por quê? Leitores, acadêmicos e editores tentam explicar essa aparente contradição nesta edição dedicada ao gênero que deu ao mundo obras-primas como Dom Quixote e Memórias póstumas de Brás Cubas.

A professora de literatura da PUC-Rio Daniela Beccaccia Versiani escreve sobre as origens do romance e as principais mudanças até chegar na publicação de Ulisses, o livro de James Joyce que provocou uma verdadeira cisão na literatura mundial. Outros escritores que buscaram a reinvenção do gênero aparecem em texto que explica como autores como William Faulkner e Oswald de Andrade se utilizaram de novos recursos estilísticos para escrever livros que se tornaram marcos da literatura mundial. Uma investigação
a respeito do romance paranaense também está presente no especial.

A edição ainda traz Cyro Ridal, um dos mais importantes produtores musicais da cena curitibana, que revela suas preferências literárias no “Perfil do Leitor”. Louis Ferdinand Céline, o controverso escritor francês, tem o caminho de seu Viagem ao fim da noite recontado na seção “Making of”. Entre os inéditos, Luiz Andrioli vai Em Busca de Curitiba com o conto “Passagem marcada”, e o romancista André de Leones publica trecho de seu próximo livro, Terra de casas vazias, a sair ainda este mês. De Londrina vem o conto “Samba em dor maior”, que o escritor Rogério Ivano produziu especialmente para esta edição. Na poesia, o ex-crítico musical e vocalista da banda Maria Angélica Não Mora Mais Aqui faz sua estreia literária nas páginas do Cândido.