SÉRIE ORELHAS MARCADAS | Código para começar o dia bem 09/12/2025 - 14:46

A mentalidade do nosso time de jornalistas está passando por uma verdadeira ressignificação. A nossa equipe está treinada estrategicamente para matar um leão por dia. Valorizamos o high-ticket das nossas reportagens. Foram dailies atrás de dailies, weeklies atrás de weeklies e monthlies atrás de monthlies em busca de um só objetivo: ser feliz no caminho e confiar no processo!

E qual o nosso objetivo? Gastar a sola do sapato na trilha da conexão interna, ora. Na jornada da expansão. No despertar da autoconquista. No chamado da consciência. No grande propósito dessa missão cha­mada vida! É sobre acolher sua própria evolução e celebrar cada pequena vitória. Se você ainda não vibrou na frequência que você deseja, irmão, eu vou te passar o código.

Primeiro, acorde às 4h da manhã e tome seu chá de hibisco para destravar o dia. Também pode ser um matchá batido no frother ou um bulletproof coffee para manter-se em alta performance. Por que não arriscar um smoothie verde com spirulina? Ousado demais, eu sei. Vamos fazer o básico. Pegue a sua água alcalina com limão espremido na hora, coloque em uma garrafa fosca, e vá treinar, irmão! Porque se você não fizer, ninguém vai fazer por você.

Depois, nada melhor do que um meet energizado com a galera às 8h da manhã, não é mesmo? AHÚ! Então, sente-se com a coluna ereta além do necessário, como se estivesse prestes a anunciar um curso. O queixo deve estar levemente elevado para sinalizar visão de futuro. O peito sempre aberto para receber a abundância. Pés bem firmes no chão para ancorar ener­gia. Mãos unidas em triângulo – aquele power pose discreto. Olhar 45° para cima, como quem acessa insights do universo. Não esqueça de mugir e balançar a cabeça em sinal de positivo a qualquer gráfico que apa­recer na tela.

Depois de jogar muito ping-pong, comer pipoca trufada e tirar uma foto para o LinkedIn com a legenda “criando pontes, não paredes”, que tal aproveitar um final de semana bem ensolarado e edificante? Evite gas­tar energia com futilidades do mundo exterior e seja produtivo dentro do seu próprio lar. Vá até alguma janela que tenha luz direta do sol, ajuste o seu alinhamento de base, faça a posição do guerreiro enraizado e receba a vibração de expansão até o seu mindset começar a arder.

Ou tente também o cheat:
seta direita
seta direita
L2
quadrado
triângulo
seta para baixo
R1
círculo
círculo
start por 3 segundos

Você vai desbloquear o Modo Aromaterapia Incontrolável – toda vez que você falar “energia”, “propósito” ou “autonomia”, um borrifo automático de óleo essencial de lavanda dispara em seu próprio rosto, sem aviso, no meio do meeting ou da mentoria.
E aí, topa subir essa montanha com a gente? Então, já sabe, se tiver algum insight de algo edificante que leu por aí, envie-nos um e-mail (jornalcandido@gmail.com) e inclua seu nome e local de residência. Confira abaixo as orelhas marcadas para esta edição.

 

8 de outubro de 2025 — Sérgio Ro­drigues, na Folha de S.Paulo, des­creve uma paisagem cultural atolada em automatismos e alerta para o risco de uma literatura fabricada por máquinas que também assumem o lugar do leitor. "As máquinas não apenas escrevem por nós, mas leem também, o que sugere o oxímoro tragicômico de uma primavera editorial desprovida de leitores.”

14 de outubro de 2025 — Na newsletter de Flávio Morgado no Substack, a crítica ao mercado literário aparece com precisão ao abordar a transformação do livro em gesto de autopromoção. "O fetiche do livro próprio virou uma extensão do eu, como o feed do Instagram, 'Veja minha dor, veja minha sensibilidade, veja minha estética'. A publicação vira síntese simbólica de sucesso subjetivo."

8 de novembro de 2025 — Na Folha de S.Paulo, Ruy Castro observa como certas expressões ocupam a fala com tal facilidade que já parecem agir sozinhas, como ruídos que atravessam o dia antes mesmo de serem percebidos. "Pela frequência com que se bate hoje o martelo a respeito de qualquer coisa, imagine a cacofonia. (…) Por sorte, bater o martelo é apenas uma expressão, uma tomada de liberdade da língua."

 

19 de novembro — A escritora Marie Declercq, em sua newsletter no Substack, fez uma crônica-reportagem sobre o que diz ser o fetiche mais 2025 do ano de 2025. Ela investigou a subcultura do gooning, que é o consumo obsessivo de pornografia como experiência comunitária digital e a atra­ção pelo escapismo sensorial. "Me senti uma espécie de Francis Fukuyama tentando provar o fim do sexo, ou pelo menos o fim de qual­quer nova manifestação humana da vontade de fazer sexo", comentou a jornalista sobre o curto-circuito entre isolamento e socializa­ção, "Pela minha experiência, quan­do homens se juntam em u­ma comunidade, duas coisas podem sair dela: uma célula neona­zista ou masturbação coletiva".

25 de novembro — Também no Substack, a escritora Laurinha Lero relatou que se sentiu magoada por ser trapaceada pela campanha de marketing do Canva, que é uma pla­taforma online de design. Tudo começou quando a modelo de fisiculturismo, Gracyanne Barbosa, anunciou nas redes sociais o lançamento da "Gracyovos", que seria uma marca luxuosa de ovos de galinha. A escritora encontrou resposta para a sua mágoa no livro de Gabriel García Márquez, Relato de um Náufrago, a história real de um marinheiro que sobrevive ao mar e depois vê sua tragédia virar propaganda. "Bom pra ele! Melhor que nada. Mas convenhamos: é meio ridícula a ideia de alguém passar dez dias em alto-mar, à beira da morte, lutando contra os tubarões e a fome e a loucura, pra então ver sua história transformada num comercial de sapato. Não há nada de terrível ou sublime nes­se mundo que um marketeiro não profane pra aumentar a margem de lucro do cliente em 0,3%. Mesmo ciente disso, eu quis acreditar no empreendedorismo galináceo da Gracyanne, e descobri que nem o marketing tá a salvo do marketing."

 

 

 

Carlitos Marinho nasceu em Mariluz, no Paraná. Formado em Jornalismo pela Unicentro, em Guarapuava. Atualmente, trabalha na Secretaria de Comunicação do Paraná e é colaborador do jornal Cândido.

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