POESIA | Testemunha e abril rosa 09/12/2025 - 16:37
Por Maria Vitória Rosa
Testemunha
às vezes acho que sou uma farsa
falsa testemunha
de uma sociedade colapsada
tem dias que a poeira apocalíptica
seca, tranca
minhas narinas
e assim vou expelindo
uma tosse tóxica e fina
a culpada, dizem,
são as queimadas, que atingem
biomas herméticos
paisagens abundantes
viram imensos cemitérios
reduzidos a camadas de pó morto
o mundo anda meio torto
nosso sol já não é o mesmo
e o céu apático
espelha muitos erros
se ao menos fosse um defeito
deles, seres longínquos e sagrados
mas não, é nosso legado
espécie que será sempre lembrada
pelo ódio
abril rosa
linhas revolucionárias
de concreto
niemeyer
concreto
pesado
concreto
pensado
para produzir
um novo
estado
de espírito
social
espiritualmente adequado
para o padrão
oriental
2025 promete
mudança
2025 promete
morte
que avança
contra
a nossa sorte
ela, na espreita
ela, planeja
um assalto
roubo de vidas
que se valessem algo
seriam salvas
pelo deus monoteísta
mas ele deve estar ocupado…
Maria Vitória Rosa é escritora, atriz e ativista curitibana. Tem dois livros de poesia publicados: Poética Pandêmica, Hábitos Políticos (2023) e No Limbo (2024), lançados na Feira Literária do Sesc, Biblioteca Pública do Paraná e Feira do Poeta. Em suas obras aborda questões de identidade de gênero e vivências sociais de uma mulher travesti.




