O jornal como porta de saída do cárcere 14/01/2013 - 10:10
Reportagem do jornal Gazeta do Povo repercute parceria entre as Secretarias de Segurança Pública e de Cultura que possibilita aos detentos do Estado a leitura do jornal Cândido, publicado pela Biblioteca Pública do Paraná
Cristiano Castilho/ Gazeta do Povo
Os 1.406 encarcerados que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado, em Piraquara, tomam banho de sol, em média, uma vez por semana. De segunda a segunda, diariamente quatro das 24 galerias e seus respectivos “X”, forma como são chamadas as celas por presos e agentes penitenciários, são encaminhadas ao pátio. No restante dos dias – de contar nos dedos ou de fazer risquinhos na parede – a maior parte dos detentos lê. Primeiro, porque a leitura serve como remição de pena. Segundo, porque a história de um livro, ou, como agora, de uma crônica de jornal, acaba sendo uma pequena fuga, instantânea e dentro da lei.
Publicação da Biblioteca Pública do Paraná, o jornal Cândido circula mensalmente em Curitiba desde agosto de 2011. Traz em suas páginas matérias sobre a leitura em Curitiba, análises literárias, entrevistas com escritores e leitores, além de contos, poesias e crônicas. A princípio, pode parecer pretensioso ou exibido. Que nada. Tanto é que, desde maio do ano passado, devido a uma parceria entre as secretarias de Segurança e Cultura, algumas penitenciárias de Curitiba e do interior recebem exemplares do jornal. São 500, todo mês.
O material é mais uma arma para os professores do Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos (CEEBJA) Dr. Mário Faraco, responsáveis pela educação de 295 detentos, já que acaba por estabelecer um diálogo importante e realista entre os presos e a vida lá fora.
A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou a entrega de uma edição no fim do ano passado, em um dos presídios da Penitenciária Central do Estado (PCE). Tudo começa na sala de reunião dos professores, que leem o jornal e selecionam os temas que consideram mais adequados. “Achei muito legal essa crônica que fala sobre um alcoólatra. Fazemos a associação com a droga, que via de regra faz parte da vida deles”, diz, empolgada, Vera Lúcia da Silva, professora da Inglês e Português. Ao lado dela, outros 69 professores da rede estadual de ensino dão aulas para os detentos por meio do CEEBJA. “As pessoas esquecem que eles são gente como a gente e só estão aqui vivendo uma outra história”, reflete Vera.
Gilmar
Gilmar de Oliveira, 40 anos, “pegou” 14 anos e sete meses. Tráfico de drogas. De novo. Sentado na primeira carteira, bem perto do quadro negro – e da cela –, o detento destacou as poesias do jornal. “Ah, elas são muito boas. Mas eu leio todo o jornal porque... tenho tempo”, consente. “Tem coisas que li num livro que nem sabia que existiam”. Gilmar, preso há meia década, hoje recomenda livros para as filhas de 12 e 18 anos. “Indiquei A Cabana e minha filha me entregou um resumo”, comemora. Para a pergunta fatídica (“o crime compensa?”), Gilmar tem a resposta. “O dinheiro que você ganha lá fora você perde aqui dentro.”
Leandro
Leandro Souza fala rápido, e bem. Campeão de leitura no presídio e fã do Cândido, o rapaz de 30 anos tinha devorado impressionantes 62 livros até o fim de 2012. “É maravilhoso, distrai a cabeça da gente”, diz o costureiro, que estudou até a sétima série. “Eu leio o jornal quando estou meio nervoso ou quando bate a saudade”, conta. No momento, lê uma obra de Zilda Arns, de quem fala com intimidade. “Foi triste a morte dela no Haiti, né?”. Depois que sair, daqui a cerca de 18 anos, Leandro pretende casar e constituir família. “Não quero ficar pra tiozinho.”
Cristiano Castilho/ Gazeta do Povo
Os 1.406 encarcerados que cumprem pena na Penitenciária Central do Estado, em Piraquara, tomam banho de sol, em média, uma vez por semana. De segunda a segunda, diariamente quatro das 24 galerias e seus respectivos “X”, forma como são chamadas as celas por presos e agentes penitenciários, são encaminhadas ao pátio. No restante dos dias – de contar nos dedos ou de fazer risquinhos na parede – a maior parte dos detentos lê. Primeiro, porque a leitura serve como remição de pena. Segundo, porque a história de um livro, ou, como agora, de uma crônica de jornal, acaba sendo uma pequena fuga, instantânea e dentro da lei.
Publicação da Biblioteca Pública do Paraná, o jornal Cândido circula mensalmente em Curitiba desde agosto de 2011. Traz em suas páginas matérias sobre a leitura em Curitiba, análises literárias, entrevistas com escritores e leitores, além de contos, poesias e crônicas. A princípio, pode parecer pretensioso ou exibido. Que nada. Tanto é que, desde maio do ano passado, devido a uma parceria entre as secretarias de Segurança e Cultura, algumas penitenciárias de Curitiba e do interior recebem exemplares do jornal. São 500, todo mês.
O material é mais uma arma para os professores do Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos (CEEBJA) Dr. Mário Faraco, responsáveis pela educação de 295 detentos, já que acaba por estabelecer um diálogo importante e realista entre os presos e a vida lá fora.
A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou a entrega de uma edição no fim do ano passado, em um dos presídios da Penitenciária Central do Estado (PCE). Tudo começa na sala de reunião dos professores, que leem o jornal e selecionam os temas que consideram mais adequados. “Achei muito legal essa crônica que fala sobre um alcoólatra. Fazemos a associação com a droga, que via de regra faz parte da vida deles”, diz, empolgada, Vera Lúcia da Silva, professora da Inglês e Português. Ao lado dela, outros 69 professores da rede estadual de ensino dão aulas para os detentos por meio do CEEBJA. “As pessoas esquecem que eles são gente como a gente e só estão aqui vivendo uma outra história”, reflete Vera.
Gilmar
Gilmar de Oliveira, 40 anos, “pegou” 14 anos e sete meses. Tráfico de drogas. De novo. Sentado na primeira carteira, bem perto do quadro negro – e da cela –, o detento destacou as poesias do jornal. “Ah, elas são muito boas. Mas eu leio todo o jornal porque... tenho tempo”, consente. “Tem coisas que li num livro que nem sabia que existiam”. Gilmar, preso há meia década, hoje recomenda livros para as filhas de 12 e 18 anos. “Indiquei A Cabana e minha filha me entregou um resumo”, comemora. Para a pergunta fatídica (“o crime compensa?”), Gilmar tem a resposta. “O dinheiro que você ganha lá fora você perde aqui dentro.”
Leandro
Leandro Souza fala rápido, e bem. Campeão de leitura no presídio e fã do Cândido, o rapaz de 30 anos tinha devorado impressionantes 62 livros até o fim de 2012. “É maravilhoso, distrai a cabeça da gente”, diz o costureiro, que estudou até a sétima série. “Eu leio o jornal quando estou meio nervoso ou quando bate a saudade”, conta. No momento, lê uma obra de Zilda Arns, de quem fala com intimidade. “Foi triste a morte dela no Haiti, né?”. Depois que sair, daqui a cerca de 18 anos, Leandro pretende casar e constituir família. “Não quero ficar pra tiozinho.”