“Não me considero um escritor, mas sim um leitor” 03/10/2013 - 10:30

Paulo Scott, vencedor do último Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional com o romance Habitante irreal, participou do sétimo encontro do projeto “Um Escritor na Biblioteca” em 2013

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Com formação em Direito e uma estreia relativamente tardia na literatura, aos 35 anos, Paulo Scott abriu o sétimo encontro do projeto “Um Escritor na Biblioteca” em 2013, na noite desta quarta-feira (2), falando de seu primeiro livro, a coletânea de poemas Histórias curtas para domesticar as paixões dos anjos e atenuar os sofrimentos dos monstros, assinado sob o pseudônimo de Elrodris. “Publiquei esse livro em 2001 por conta de uma campanha de alguns amigos, que diziam que eu não podia ficar só escrevendo, precisava publicar”.

A poesia também foi o ponto de partida para Scott como leitor. Entre os autores marcantes que leu nos anos de formação está o poeta curitibano Paulo Leminski. “Leminski foi muito importante para mim, um garoto da periferia de Porto Alegre. Aquela dicção, aliada à figura marcante do poeta, me pareceu surpreendente”, revelou ao jornalista Yuri Al'Hanati, mediador do bate-papo, cujo conteúdo será publicado na edição de novembro do jornal Cândido.

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Hoje reconhecido como um dos talentosos romancistas brasileiros, Scott elencou três prosadores que, como leitor, considera cânones: Louis-Ferdinand Céline, Jean-Paul Sarte e Graciliano Ramos. “Sempre quando preciso preencher algum documento, escrevo que sou negro, porque me sinto negro. Inclusive já militei no movimento negro. Mas nem o racismo condenável de Céline, me faz deixar de enxergar ali um grande autor literário”, disse Scott, cujos dois últimos romances, O habitante irreal (2011) e Ithaca Road (2013) foram bastante elogiados pela crítica e por leitores.

Ainda sobre seus cânones, o escritor disse se esforçar para que suas preferências literárias não o deixem refém de alguns poucos autores. “Tento a todo momento me policiar para que meus cânones não construam uma redoma, que me impeça de ver o que está além dela, no lado de fora.” O escritor também disse que se “considera muito mais um leitor do que um escritor”. “Se tivesse que escolher entre a leitura e a escrita, ficaria com a primeira.”

Nascido na capital gaúcha em 1966, Scott vive desde 2008 no Rio de Janeiro. Além de Histórias curtas para domesticar as paixões dos anjos e atenuar os sofrimentos dos monstros, na poesia publicou outros três livros: Senhor escuridão (2006), A timidez do monstro (2006) e O monstro e o minotauro (2011, em coautoria com o cartunista Laerte).

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Em 2003, publicou o volume de contos Ainda orangotangos, editado originalmente pela editora independente Livros do Mal e que, em 2007, ganhou reedição pela Bertrand Brasil. A obra foi adaptada para o cinema em 2008 pelo cineasta Gustavo Spolidoro e venceu o 13º Festival de Cinema do Milão. Em 2005, o escritor lança Voláteis, seu primeiro romance, que envereda pelo gênero noir. Seu livro mais recente, o romance Ithaca Road, foi lançado em junho passado e é resultado da viagem do autor a Sydney, na Austrália. A viagem e o livro fazem parte do projeto “Amores Expressos”, que enviou escritores a diversas cidades do mundo para escreverem uma história de amor.

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