Editorial

Se a definição de crônica ainda continua sendo uma questão em aberto, de uma coisa se tem certeza: o gênero literário que se acostumou a chamar de “tipicamente brasileiro” está em um momento de transição. Se no século XX escritores como Rubem Braga fizeram alta literatura com temas amenos do dia a dia, no atual momento a crônica se afasta do comezinho para se fundir com a ficção, flertando principalmente com o conto e um texto afinado com as adversidades que as grandes cidades enfrentam em diversas áreas. É o que especialistas e cronistas afirmam nesta edição do Cândido, dedicada a discutir os caminhos da crônica.

Um dos mais antigos escritores do gênero, Affonso Romano de Sant'Anna fala sobre as transformações que a crônica vem sofrendo nos últimos 50 anos, sobretudo na última década, e critica a profusão de colunistas nos grandes jornais brasileiros, que fazem “comentários” travestidos de crônicas. O norte-americano radicado no Brasil Matthew Shirts, redator-chefe da revista National Geographic Brasil, fala de sua primeira crônica, escrita a pedido do jornal O Estado de S.Paulo por conta da Copa do Mundo nos Estados Unidos, em 1994. A fantástica geração de cronistas é lembrada pelo também mineiro e cronista Carlos Herculano Lopes. Maior nome da crônica esportiva brasileira, Nelson Rodrigues aparece em texto que lembra suas frases e personagens do mundo da bola.

A edição ainda traz uma longa entrevista com o Antonio Cicero, que fala sobre a relação entre poesia e filosofia e de sua carreira como poeta e letrista de canção popular. Ainda na poesia, o gaúcho Ricardo Silvestrin e o carioca radicado em Curitiba Otto Winck aparecem com poemas inéditos. O também poeta e prosador Luiz Felipe Leprevost marca presença na seção “Em busca de Curitiba”.

Boa leitura.