POEMAS | Michel Melamed 30/08/2021 - 17:02
Frangalhos
Estamos cercados de tantas mortes que a morte já não é uma questão de tempo mas de espaço
por isso o fim dos tempos (soterrado)
*
quando a noite chega
o vazio chega
os demônios chegam
e o silêncio chega
a solidão chega
e o abandono chega
a insônia chega
e o medo chega
a saudade chega
o desespero chega
o descontrole chega
a culpa chega
o remorso chega
a paralisia chega
e nada disso basta
*
No museu do meio-dia a obra mais visitada não é O Sol A Pino mas A Retina Queimada
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O Brasil não para de acabar
*
Eu cheguei a sonhar
Era uma vida boa
Sonhava de manhã, de tarde e de noite
E depois dormia em paz
Hoje estou aposentado
Não durmo nem sonho mais
*
O Brasil acabou era um sonho bonito mas caiu um piano na nossa cabeça enquanto a gente
dormia então a gente ainda acha que tá dormindo mas na verdade já morreu
*
As notícias de hoje ainda são velhas
*
Não é o pior presidente. É o pior brasileiro de todos os tempos
MICHEL MELAMED é autor, ator e diretor. Seu trabalho é transdisciplinar, marcado pela mistura de linguagens artísticas: teatro, literatura, TV, cinema e música. Em sua trajetória, destacam-se o livro Regurgitofagia, os espetáculos Dinheiro Grátis, Homemúsica e adeusàcarne, e o longa-metragem Seewatchlook (O que Você Vê Quando Olha o que Enxerga?); como ator, as séries Capitu e Afinal, O que Querem as Mulheres?, também como autor, ambas na Rede Globo; e os programas Recorte Cultural, Campeões de Audiência e Bipolar Show no Canal Brasil. Seus últimos trabalhos são o espetáculo Monólogo Público e o filme Meu Último Desejo, de Arnaldo Jabor, ainda inédito.