POEMAS | Gal Freire 31/05/2022 - 12:56
amor ao primeiro like
mesmo quando em uma
página aberta
de um computador distante
nós somos dois hologramas
shippados pelo nosso hype
nossos arrobas cruzados
como dois gatos persas
que cruzam na varanda
não é amor
é o 4lg0r1tm0
romance bidimensional
siri não aguenta mais
e quase grita socorro
à alexa da vizinha
¿compreendes, cariño?
o amor é um
cálculo
*
festa clubber
seis horas da manhã de domingo
estou no carro de um desconhecido
não há nada mais sobre
minhas pálpebras senão
um conceitual borrão rosa e preto
e a suspeita que minha vida
não ia nada bem
empresto a chave da minha casa
para um também desconhecido
cheirar ketamina
eu sabia que não era ele
o homem da minha vida
embora eu também seja
apaixonada por cavalos
homens casados que se parecem
com gays estilosos
gays de classe média alta
que se parecem com héteros
da quebrada
travestis belíssimas
seguram copos de gin tônica
andam feito cardume
tudo cheira magia
e baunilha
nos corpos das
donas da noite
*
p/ “Z”
não te escrevo porque
você não tem nome
e a imagem incapturável
morre antes da palavra dita
não digo que te espero
sem antes te nomear
astronauta da saudade
sem antes pedir alguma esmola
no absoluto caos
interestelar
não rezo por ti
porque vivo e vibro furiosa
e a última letra deste alfabeto
não contempla o fim
de coisas sem começo
por isso não te escrevo
esta anti-carta
apenas escrevo
Gal Freire é uma poeta e bailarina nascida no Maranhão e radicada em Curitiba. Graduanda em Dança pela Universidade Estadual do Paraná — FAP, atua como artista residente no coletivo Selvática Ações Artísticas e investiga o diálogo entre a palavra e o movimento. Publicou em abril a plaquete Efeito Barbie, pela Edições Macondo.