Retinas Quebradas
Já é de manhã e eu vou dormir
Ferindo meus olhos na insônia
O café está gelado, os papéis jogados
num canto qualquer da mente.
O dia está propício
Aos sonhos diurnos da história
As palavras se arrastam pelos lábios
Pernas bambas e sensações dormentes
Um feitiço melancólico, corrosivo
Eles saem das suas tocas
e espreitam a caça do orgulho
Mausoléus de ratos,
de sinistra podridão.
Jorro água em meus olhos
E é difícil acreditar em fábulas
Procurei o convívio com o silêncio
Profanei a noite e os meus fantasmas
A febril angústia consola o meu recuo
Víboras de mágicos sorrisos
Rastejam aos pés da indelével máscara
Mentindo risos e sufocando gemidos.
Sou pássaro de olhos míopes!
Hoje a dor está mastigável,
Mas ainda queima quando é engolida
Os ouvidos estão atentos ao “silêncio”
As minhas sombras gritam com a astuciosa luz
Eu tenho fobia de mim.
Ted Rocha é professor de literatura e participou da Oficina BPP de Criação Literária 2012 — Poesia, ministrada por Eucanaã Ferraz. Formado em Letras na UFPR, é mestrando em Estudos Literários na área de poesia. É autor do livro de poesia Teatro dos Mortos (2003). Atualmente, está escrevendo um livro sobre a guerra do Contestado. Vive em Curitiba (PR).
Ilustração: Rafael Antón