Poesia
Cortejo noturno
trouxe na lua crescente
uma canastra de peixes
(as guelras membranas baças
de romãs despedaçadas)
nos lampejos da minguante
um puçá de caranguejos:
tanino do mangue-bravo
fez o azul das carapaças
das fasquias de taquara
fisgou argolas de palha;
as plumas de maguari
transbordando das cabaças
no cesto da lua nova
frutos roxos de figueira,
gavelas, paveias, feixes
para o leito sobre a areia
29 dias
restos de flores de goivo,
gomos e lábios vermelhos
– o lento engenho do jogo
no começo dos afagos
(sobre o leito frondoso
o alvorecer poento
encontre os noivos reclusos
dentro do próprio desejo)
dedos trêmulos e beijos
sobre seus cabelos negros
– lampejo sombrio do gozo
no fôlego dos abraços
(junto aos latejos do fogo
o poente poeirento
encontre os noivos desnudos
no assombro do silêncio)
restos de flores de goivo
sobre seus cabelos negros
trouxe na lua crescente
uma canastra de peixes
(as guelras membranas baças
de romãs despedaçadas)
nos lampejos da minguante
um puçá de caranguejos:
tanino do mangue-bravo
fez o azul das carapaças
das fasquias de taquara
fisgou argolas de palha;
as plumas de maguari
transbordando das cabaças
no cesto da lua nova
frutos roxos de figueira,
gavelas, paveias, feixes
para o leito sobre a areia
29 dias
restos de flores de goivo,
gomos e lábios vermelhos
– o lento engenho do jogo
no começo dos afagos
(sobre o leito frondoso
o alvorecer poento
encontre os noivos reclusos
dentro do próprio desejo)
dedos trêmulos e beijos
sobre seus cabelos negros
– lampejo sombrio do gozo
no fôlego dos abraços
(junto aos latejos do fogo
o poente poeirento
encontre os noivos desnudos
no assombro do silêncio)
restos de flores de goivo
sobre seus cabelos negros
Josely Vianna Baptista nasceu em Curitiba (PR), em 1957. É poeta, tradutora e escritora. Entre seus livros, estão Ar (1991), Corpografia (1992) e A concha das mil coisas maravilhosas do velho caramujo (2001). Em 1996, criou a coleção Cadernos da Ameríndia, dedicada a temas do repertório cultural e textual de etnias indígenas sul-americanas. Os dois poemas publicados aqui fazem parte do livro inédito Roça barroca, que a editora Cosac Naify lança em janeiro.
Ilustração: Rafael Antón
Ilustração: Rafael Antón