Poesia

A vereda se encheu de pedras


Theo
A vereda se encheu de pedras que brotavam no borbulhar dos pés.

As pedras cuspiam espinhos

— nuvem de dor ao redor da visão —,

a pele rasgou no caminho:

pedaços da história deixando marcas.

A vereda no meio das pedras.

Os olhos fecharam para supor destinos,

os dentes cravados nos lábios:

a voz e o grito presos dentro das pedras.

Os nervos endureceram espinhos.

A vereda borbulhou de pés.

Pegadas de dor sobre a vereda marcada de história.

Pois a vereda se encheu de espinhos.

Nos olhos cansados, a vereda de restos num campo de pedras.

A vereda se fez com pegadas que deixaram de borbulhar nos pés.


Homero Gomes
nasceu em 1978. É escritor, editor e professor. Lançou recentemente, pela editora Patuá, o livro de poemas Solidão de Caronte. Vive em Curitiba (PR).

Ilustração: Theo Szczepanski