Poemas | Ruy Espinheira Filho

ESSES TANTOS POETAS


Esses tantos poetas.
Esses tantos geniais poetas.
Como um vento poderoso soprando
de todos os lugares,
e de eras
imemoráveis.

E aqui recebemos esses poetas,
que às vezes não sabiam que eram poetas,
muito menos poetas geniais
como Shakespeare, dizem
alguns dos seus cultores
(os detratores não contam,
pobres atores que gesticularam em cena
uma hora ou duas e se tornaram
pó na história de som e fúria
contada por um idiota,
significando nada,
como disse o pobre
Macbeth).

Não, não se sabiam poetas,
e muito menos geniais,
esses poetas.
Como não sabemos o que podem valer agora
nossos traçados no papel.

Que provavelmente não são nada.

Mas, seja como for, podemos aspirar
esse vasto e luminoso vento que sopra
de todos os lugares
e,
porque o aspiramos,
conforma as nossas almas,
ao menos um pouco,
à sua imagem e
semelhança.


BALEIAS, DRAGÕES


Quando chegarem as baleias
não estaremos mais aqui.
Porque este deserto não será
mais deserto, será,
como antes,
um oceano.

E, infelizmente,
não estaremos mais aqui.

Já podemos, pois, ter saudade antecipada
das baleias.

Como temos dos dragões,
que certamente só estarão de volta
quando esta terra
(ex-rio de lava,
ex-bloco de gelo,
ex-deserto,
ex-oceano)
for uma vasta cadeia de montanhas
de cujas alturas
se erguerão os belos voos
de vastas asas deixando atrás uma trilha de fumo
azul.

Aqueles voos...

Os imensamente belos voos...

Quando também,
infelizmente,
não estaremos mais aqui.


Ruy Espinheira Filho é poeta, ficcionista, jornalista e ensaísta. Uma seleção de seus poemas, organizada por Sérgio Martagão Gesteira, foi publica em 2011 na coleção Melhores Poemas, da editora Global. Em 2016, publicou a coletânea de poemas inéditos Milênios e outros poemas, pela editora Patuá. Vive em Salvador (BA).