Poemas | Maria Dolores Wanderley

Tenho uma imensa necessidade
de errar,
experimentar o sagrado.
Uma chuva muito antiga
alimenta o lago onde busco água,
é necessário que eu ande
mesmo sem mapas ou bússolas
sem satélites.
Há estrelas e ventanias
me guiando

Os ritmos

A terra desacelera um segundo a cada ano
minha cabeça acelera
de frente para telas e teclas
como se o dia estivesse encolhendo
minha cabeça dá voltas
estou sóbria

Entendo de ostras e madrepérolas
magma, cristais, mandalas
quando não há mais tempo
a perder com miudezas
e já que não há lugar nem tempo
a perder com miudezas
que faço eu por aqui

se tudo que sei são miudezas
e não há mais tempo
nem paciência
de trançar labirintos
e o infinito se perdeu?

Requerimento à light

Força, preciso de força
para suportar a voltagem da vida
quem sabe a Companhia de Eletricidade
com seus cabos isolantes haverá
de me ajudar a organizar
minhas energias
blindar a pele e a alma
desse mundo caótico,
me aninhar em um pensamento vago,
num casulo.

mesmo que seja breve,
que seja frágil


Maria Dolores Wanderley é professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde leciona no Departamento de Geologia desde 1997. Publicou cinco livros de poesia, entre eles, Ao rés do chão (2013), e dois livros de contos, entre eles, Paralelo 5 (2015). Vive no Rio de Janeiro (RJ).