Poemas | Gerson Maciel

Cometi um elogio a mim


Ninguém ficou sabendo.
Não enalteci tamanha conduta,
elogio só tem quem tem direito.
Reputava que não existia em mim
convicção para recebê-lo.
Confesso que há uma dubiedade.
Uma breve tensão ocupou-se de mim.
Loas a mim então teci,
com meio elogio.
Senti-me menos falível.
Pois este meio eu mereço.
Não é justo recebê-lo,
quando se vale um inteiro.
Isso me causou desumana comoção,
uma vez que há outras frações
abaixo de meio.
Não posso ser tão severo com o nexo de mim,
a tal ponto de achar que não faço jus,
a um terço de meio elogio.
Facultado a mim,
com o beneplácito de minha pessoa,
num momento excelso de resplandecência.
Agora, se não sou merecedor,
sequer de um décimo de elogio,
a mim, e por mim concedido,
num cenário de absoluta reflexão,
é porque o elogio não é digno de mim.


Homenagem da Erasmo de Roterdã
(1469-1536), autor de Elogio da mentira


Gerson Maciel é poeta e cronista. Teve textos publicados em diversas revistas e jornais, como Nicolau e Outras Palavras. Prepara para este ano o lançamento de seu primeiro livro de poesia. Maciel vive em Curitiba (PR).