Na biblioteca de Benedito Costa

Acervo seletivo

A biblioteca de Benedito Costa, reduzida hoje a “apenas” três mil títulos, revela o repertório do professor universitário e escritor, há muito tempo interessado em fotografia, cinema, artes plásticas e literatura, incluindo também as pesquisas do universo acadêmico


Kaype Abreu

Fotos: Kraw Penas
benedito costa


Professor universitário em Curitiba, Benedito Costa conseguiu que sua biblioteca fosse, ao mesmo tempo, fonte de pequisa e de satisfação pessoal. O acervo é dividido entre clássicos da literatura universal do século XX, obras sobre História da arte e um grande número de livros acadêmicos. 

Formado em Letras e dono de uma empresa de consultoria de língua portuguesa, ele prestou serviço por duas décadas para a Rede Paranaense de Comunicação (RPC) e lá praticamente construiu sua carreira. Ao longo dos anos, acumulou milhares de livros. Mas uma recente mudança de residência o obrigou a se desfazer de boa parte do acervo, que hoje conta com três mil exemplares. 

Atualmente, diz, tem uma biblioteca “mais direcionada”, que revela um gosto por pesquisas acadêmicas e por assuntos eruditos. “A bordadeira faz um bordado tantas vezes que ela se torna especialista naquilo. Um literato é um artesão também, um profissional da palavra”, conta o autor da coletânea de contos Diante do abismo (2011). 

Ainda na infância, Costa, que nasceu em Quatiguá (PR), descobriu em casa um velho baú com livros repletos de imagens, que os seus pais, mesmo não sendo leitores, guardavam. Foi a porta de entrada para o mundo das artes, da fotografia e da literatura. Três paixões que o perseguem até hoje e que Costa tenta conciliar em sua rotina de trabalho. “Em minhas aulas, misturo literatura e artes plásticas, literatura e fotografia, literatura e cinema. Estou sempre fazendo esse jogo entre texto e imagem”, diz. 

Por conta de uma revista que vendia edições da extinta editora Círculo do Livro, adquiriu seus primeiros exemplares — grande parte de romances policiais. Com o primeiro emprego, passou a gastar quase todo o salário em livros. Hoje afirma trabalhar para poder saciar duas paixões: ler e viajar.

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Obra completa, Shakespeare (1564 — 1616)

“Tenho uma edição de Shakespeare muito antiga. É do século XIX. Uma das primeiras coisas que eu comprei”, diz Costa. Considerado o mais influente dramaturgo do mundo, William Shakespeare morreu há exatos 400 anos (23 de abril de 1616). Segundo o crítico americano Harold Bloom, o autor de Hamlet “inventou para nós uma nova origem, na ideia mais iluminada até hoje descoberta ou inventada por um poeta: o autoreconhecimento gerado pela autoescuta”.

Memórias de Adriano (1951), de Marguerite Yourcenar
“A autora fez uma pesquisa sobre o imperador romano Adriano (76dc-138dc). Foi uma das primeiras coisas que li dela. O que me atrai na Marguerite Yourcenar (1903-1987) é a qualidade da linguagem literária e a grande pesquisa que faz antes de escrever.” Obra-prima da escritora belga, Memórias de Adriano começou a ser escrita em 1920 e, após inúmeras versões, foi lançada em 1950. Escrita como se fosse uma biografia do imperador, a obra é considerada um retrato emocionante e humanista de uma das maiores personalidades de todos os tempos.

Os Buddenbrooks (1901), de Thomas Mann
“Thomas Mann é um dos maiores autores do século XX. Dentro da literatura alemã moderna, ele foi um dos autores mais relevantes. Foi muito prolífico, escrevendo obras fundamentais para entender o Ocidente e a história da Europa no século XX. Lançado em 1901, é o primeiro romance do autor de A montanha mágica.”

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Corydon (1924), de André Gide
Nobel de Literatura de 1947, André Gide (1869-1951) foi romancista e fundador da prestigiosa editora Gallimard. Homossexual assumido, o francês foi um militante da causa gay. “Corydon reúne vários ensaios sobre a homossexualidade, escritos ao longo de mais de 10 anos e publicados em formato de livro em 1924. Este foi o primeiro livro de um grande autor que eu ganhei. Presente de minha irmã.”

Sagarana (1946), de Guimarães Rosa
“Sagarana foi um marco. Uma mudança na forma como eu entendia literatura. Não gostava de literatura brasileira. Comecei a me interessar por causa desse livro. Um dos assuntos que eu mais estudei na vida toda foi religião. Guimarães Rosa (1908-1967) é um escritor extremamente místico e isso acabou me atraindo muito.”
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Vida de Michelangelo Buonarroti (1550), de Giorgio Vasari
“Giorgio Vasari foi o primeiro historiador de artistas da Renascença. Nessa obra ele fala dos principais nomes do período.” Documento histórico, a biografia de Michelangelo Buonarroti, escrita por Vasari em 1550 e novamente em 1568, procura situar o artista no centro da história da arte italiana, colocando-o como o ponto de chegada de um ciclo histórico de três séculos.

A ordem do discurso (1970), de Michel Foucault
“A ordem do discurso (1970) é a transcrição de uma palestra que Michel Foucault (1926- 1984) fez quando assumiu uma cadeira no Collège de France. A obra é um resumo do trabalho dele até então.” Foucault, em seus livros, interroga as formas do poder a partir dos problemas da loucura, sexualidade e da penalidade, analisando a sociedade moderna.