Especial | Microeditoras

Código aberto

Editores independentes apostam em oficinas de capacitação para compartilhar suas experiências e fortalecer a cena como um todo

Omar Godoy


Divulgação | Publique-se!                            

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Curso de editoração independente no festival Publique-se!, em Recife.

Inicialmente um fenômeno restrito ao undergound, as feiras de arte impressa vêm atraindo o público “leigo” e já se espalham pelas capitais brasileiras. Mas escoar a produção de livros com tiragem limitada e formato experimental não é a única proposta de eventos como Publique-se!, Avessa, Feira Plana, Miolo(s), Tijuana, Pão de Forma, Parque Gráfico, Baronesa, Feira de Bolso, Elástica e Dente, entre tantos outros. Para a nova geração de editores, esses encontros também são oportunidades de compartilhar a experiência adquirida por meio de cursos, palestras e debates. 

“Como não existe concorrência nesse meio, nossa lógica é a da troca”, explica Eduardo Lacerda, da editora Patuá, nome recorrente na programação das principais oficinais de publicação independente. “Já dizia o poeta José Paulo Paes: 'Só compreendo o pão se dividido'”, cita Gustavo Felicíssimo, da Mondrongo, como se complementasse o pensamento do colega. Ou seja: o código do conhecimento editorial está aberto, como se diz na linguagem dos desenvolvedores de software. 

Boas intenções à parte, o fato é que a capacitação também contribui para o fortalecimento da cena indie enquanto mercado. “Se uma editora eleva a qualidade de seus produtos, ela força todas as outras a fazer o mesmo”, opina Thiago Tizzot, da curitibana Arte & Letra. Há, ainda, quem tenha assumido o papel formativo para evitar o isolamento. É o caso do coletivo de editores Livrinho de Papel Finíssimo, de Recife, que apostou nos cursos há alguns anos e já colhe os frutos desse trabalho. “É uma alegria ver o cenário recifense crescer. Não somos mais os únicos na cidade”, festeja Sabrina Carvalho, uma das integrantes do grupo. 

Em outubro de 2015, a Livrinho foi além das oficinas pontuais e produziu o festival Publique-se!, que durante cinco dias promoveu exposições, palestras e oficinas no Museu da Cidade do Recife. Participaram do evento empresas como Caderno Listrado, Editora Tribo, Pé da Letra, Polvilho e Lote 42, além de quadrinistas, acadêmicos e gestores culturais. Um dos destaques da programação foi um ateliê equipado com impressoras, que permitiu a publicação “instantânea” de obras de 87 autores e artistas gráficos. 

João Varella, um dos sócios da paulista Lote 42, também organiza um encontro de “micros”: a feira Miolo(s), realizada em parceria com a Biblioteca Mário Andrade. A segunda edição, que aconteceu em novembro do ano passado, reuniu 112 editoras e contou com palestras, oficinas, mostras e até uma premiação. Para ele, as iniciativas do gênero já não são mais meros eventos, e sim “plataformas de cultura”.

Quem também usa esse termo é Eduardo Lacerda, que tem um projeto ambicioso: lançar uma incubadora de editoras na internet. “A ideia é desenvolver uma plataforma aberta, como a Wikipedia, para compartilhar todo o conhecimento que envolve a produção de um livro. É uma forma de nós, editores independentes, contribuirmos para a cultura do país como um todo”, afirma.