Editorial - Cândido 74

"Como Buda, Confúcio, Sócrates ou Jesus, Torquato não deixou livros.” A constatação de Paulo Leminski (1944-1989), feita nos anos 1970, sobre a obra dispersa do poeta piauiense Torquato Neto (1944-1972) soa ainda mais intrigante hoje, passados 45 anos da morte do compositor tropicalista. Isso porque a admiração pela figura multifacetada de Torquato se mantém e é celebrada em 2017 com uma série de inciativas: da publicação de uma coletânea de poemas a eventos literários. 

Nesta edição do Cândido, Toninho Vaz, biógrafo do poeta, escreve sobre o percurso intelectual do artista, que deixou sua autêntica marca em várias frentes da cultura brasileira — do jornalismo à MPB, passando também pelo cinema e, claro, pela literatura. “Torquato militou na poesia radical, autêntica, com um cotidiano punk, urbano, sem disfarces”, destaca Vaz.

   Arquivo da Família
Torquato Neto

George Mendes, primo de Torquato e administrador de seu acervo, prepara um disco com material inédito do autor. A pesquisa e catalogação nos arquivos, feita por Mendes, trouxe à tona diversos textos até então desconhecidos, o que triplicou o número de composições feitas pelo poeta. “Os textos estavam bem organizados, alguns com data e até a indicação de quem ele gostaria que interpretasse a composição”, diz Mendes. Ele e o filho único de Torquato Neto, Thiago Nunes, participam da mesa que abre a 12ª Balada Literária, evento paulistano capitaneado pelo escritor Marcelino Freire e que este ano homenageia o autor de “Soy loco por ti, América”.

A edição 74 do Cândido ainda traz outros conteúdos instigantes, como a transcrição do bate-papo com a escritora Ana Miranda, que participou da edição de julho do projeto Um Escritor na Biblioteca. Autora de romances que dialogam com o passado brasileiro, ela falou, entre outros assuntos, sobre o processo de criação de Boca do inferno, título que inaugura, em sua produção, uma sequência de romances históricos. 

José de Alencar, outro autor nascido no Ceará, ganha destaque na ampla reportagem assinada pelo jornalista e escritor Marcio Renato dos Santos, que conta como o pesquisador Wilton José Marques localizou oito textos do autor que estavam perdidos no acervo do jornal Correio Mercantil (1848- 1868). Inédito em livro, o material foi editado em Ao correr da pena (folhetins inéditos), obra recém-publicada.

Entre os inéditos da edição, o Cândido publica contos de Edyr Augusto, Ana Maria Machado e Pedro Carrano, além de um poema de Francisco Alvim. A seção Cliques em Curitiba mostra o trabalho do músico e fotógrafo Denis Mariano. 

Boa leitura.