Editorial

Drummond tristinho


A sociedade brasileira ainda é careta quando o assunto é sexo. É a conclusão de professores e críticos ao analisar a incidência do erotismo na literatura produzida no país. Muitos dos grandes autores brasileiros, como Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade (foto), exploraram esse tema, mas, em geral, essa parte de suas obras permanece ignorada pela maior parte da crítica e dos leitores.

Os exemplos são vários: o próprio Drummond só teve seu livro O amor natural, de alta carga erótica, publicado cinco anos após sua morte, em 1992; já Gregório de Matos (1636 – 1696), considerado precursor na temática, ganhou uma edição sem censura de sua obra no final da década de 1960

Nesta edição do Cândido, especialistas, como a professora da Universidade de São Paulo (USP) Eliane Robert Moraes, trazem a lume a grande quantidade — e qualidade — dos textos eróticos da literatura nacional. Eliane organizou recentemente a Antologia da poesia erótica brasileira, com 255 poemas escritos nos últimos quatro séculos, uma compilação inédita sobre a produção de nossos escritores em relação à temática erótica.

Já os autores Marcelo Mirisola e Antonio Carlos Viana, que se utilizam do erotismo para compor seus romances e contos, levantam outras questões de ordem estética, como os limites entre o erótico e o obsceno.
A 53ª edição do Cândido ainda traz uma longa entrevista com Fernando Bonassi, que lançou recentemente o romance Luxúria, que tem como tema central o consumo e crédito fácil disponibilizado ao brasileiro nos últimos anos. Roteirista de filmes de sucesso, como Cazuza — O tempo não para e Carandiru, Bonassi fala também sobre suas incursões em outras linguagens que envolvem a palavra escrita, como o teatro e o roteiro de TV. Na seção Cliques em Curitiba, o fotógrafo Eduardo Macarios mostra o ensaio “Contos Fotográficos”, baseado na obra de Dalton Trevisan.

Entre os inéditos, o mineiro radicado em Curitiba Geraldo Magela, que lançou recentemente novo livro, e o manauara Diego Moraes aparecem com poemas. A jornalista e escritora Betty Milan, autora de dezenas de livos, mostra trecho de seu mais novo romance, A mãe eterna, previsto para ser lançado em maio de 2016 pela editora Record. E, de Fortaleza, o escritor Cláudio Portella envia o longo conto O trompete.