Editorial

Foto: Kristiane Foltran
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A contribuição da cultura negra para a formação do Brasil é inegável e fundamental. Na literatura não é diferente. No mês em que se comemora o dia da Consciência Negra (20 de novembro), o Cândido resgata o percurso de escritores afro-descendentes em nossa história literária. 

Dos fundamentais e clássicos Machado de Assis e Lima Barreto, passando por nomes menos conhecidos, como Luiz Gama, até chegar a poetas e prosadores contemporâneos, como o curitibano Celio Jamica (foto), a edição mostra como e sobre o que esses autores escreveram. 

Assuntos como preconceito, militância e política racial são levantados a partir de matérias e ensaios. A equipe do jornal ouviu críticos, autores e pesquisadores, que comentam diversos aspectos da literatura feita por afro-brasileiros. 

“A literatura espelha o preconceito social e torna a questão ainda mais visível”, observa Regina Dalcastagnè, professora da Universidade de Brasília (UnB) que coordenou pesquisa envolvendo 700 romances brasileiros, cujo resultado apontou que 96% dos autores são brancos. 

Em ensaio inédito, Eduardo de Assis Duarte, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisa o percurso dos nomes mais relevantes da literatura afro-brasileira, conhecidos ou não dos leitores do país. 

Autor de mais de 20 livros, Nei Lopes lançou neste ano seu mais recente romance. Em entrevista ao Cândido, o escritor fala sobre Rio Negro, 50, ambientado no Rio de Janeiro, então capital federal, na década de 1950, “período de liberação e efervescência cultural que também marca a retomada, no Brasil, de um movimento de reconhecimento da contribuição do negro à vida cultural brasileira”, conforme explica Lopes. 

Já o ensaio assinado pelo professor Claudecir de O. Rocha resgata a história da poeta negra curitibana Laura Santos. Influenciada pela estética parnaso-simbolista, principalmente por Olavo Bilac, ela criou uma poética diferenciada e moderna, com traços biográficos, por meio dos quais elucidava a realização dos seus anseios, ao mesmo tempo em que expressava um desejo de transcendência. 

A 52ª edição do Cândido ainda traz outros conteúdos, como poemas de Xico Chaves, Laura Santos e Gil Jesse, além de traduções de Jair Ferreira dos Santos e Alessandro Rolim Moura para poemas do argentino Máximo Simpson e dos gregos Mosco e Bíon, respectivamente.