Editorial

No início, literariamente falando, era o verbo. E, por muito tempo, literatura se fez com palavras, enredo, personagens, linguagem, mas sobretudo por meio de palavras. Com o tempo, ilustrações passaram a acompanhar e a dialogar com os textos literários. Mais recentemente, obras de ficção começaram a ser adaptadas para o formato de histórias em quadrinhos e, inclusive, surgem, ininterruptamente, romances gráficos, concebidos em grande parte dos casos por escritores em parceria com desenhistas.

A edição 43 do Cândido trata desse tema, uma tendência do mercado editorial. A reportagem de Jones Rossi recupera o percurso do romance gráfico, inclusive mostra que o termo, graphic novel, foi utilizado pela primeira vez na década de 1960. A força desse gênero pode ser medida, entre outros exemplos, pelo fato de a máscara do personagem V, da obra V de Vingança, escrita por Alan Moore e ilustrada por David Lloyd, ter se transformado em símbolo do grupo de hackers Anonymous e utilizada nas manifestações de junho de 2013 no Brasil.

Das experiências internacionais, incluindo nomes como Will Eisner, Frank Miller, Marjane Satrapi, Robert Kirkman, entre outros, às realizações brasileiras, a graphic novel mostra que veio para ficar. No Brasil, duas obras recentes merecem destaque: Cachalote, parceria do desenhista Rafael Coutinho e do escritor Daniel Galera, e Guia de ruas sem saída, do escritor Joca Reiners Terron e do desenhista curitibano André Ducci.

Cândido convidou quatro desenhistas para recriarem ou adaptarem livremente obras literárias. DW Ribatski reinventou Trapo, romance de Cristovão Tezza. “A causa secreta”, conto de Machado de Assis, recebeu a intervenção de José Aguiar. Arnaldo Branco recriou em traços Zero, romance de Ignácio de Loyola Brandão. E o conto “Uma vela para Dario”, de Dalton Trevisan, foi desenhado por Fabiano Vianna.

A edição ainda apresenta 18 sugestões de leituras, sejam adaptações literárias e também obras concebidas diretamente como graphic novels.

Boa leitura!