Editorial

Que o Brasil não conhece o Brasil, não é novidade. O que acontece nos confins dessa imensidão territorial muitas vezes fica restrito aos limites do próprio rincão. Isso também diz respeito à literatura. O que aparece, e acontece, em São Paulo e no Rio de Janeiro, é apenas parte de um todo. Os suplementos de cultura dos jornais e as revistas de ampla circulação, talvez por necessidade comercial, acabam divulgando a agenda, os lançamentos das grandes editoras e os autores reconhecidos por prêmios ou por frequentar espaços com holofotes. Isso é, mais do que eventual crítica, apenas constatação: o sistema literário é assim.

Mas a literatura brasileira é mais, muito mais, do que aquilo que tem eco na imprensa, nas festas e acontecimentos literários. Devido a essa questão, o Cândido decidiu abrir espaço para outras cenas que existem, e acontecem, no Brasil.

Nesta e na edição de novembro serão publicadas dez reportagens a respeito de dez cidades brasileiras — além de inéditos de autores que vivem nesses locais. Para abrir a série, jornalistas de Belém (PA), Recife (PE), Porto Alegre (RS), Londrina (PR) e Fortaleza (CE) produziram conteúdos mapeando o que, literariamente, acontece em suas cidades, recuperando movimentos passados e apontando nomes, obras e movimentos nem sempre lembrados no Sudeste e, por consequência, no restante do país.

O que está publicado nesta edição, e o que aparecerá na do mês que vem, não é um mapa definitivo de cada cena, mas um recorte que, se não contempla todos os autores e obras, apresenta manifestações que acontecem e obtêm alguma ressonância.

A equipe do Cândido espera que esse material possa contribuir para o mapeamento e a visibilidade da plural literatura brasileira, neste ano homenageada na Feira de Frankfurt, na Alemanha, mas ainda, infelizmente, um tanto distante do cotidiano dos próprios brasileiros. Boa leitura.