Capa | Especial Ditadura Militar

A literatura escancarada

A ditadura militar forçou a classe literária a se engajar no coro da oposição. Sufocados pela repressão, foram obrigados a repensar o seu papel na sociedade

 

Resistência nos pinherais

A insatisfação contra o regime que se instaurava impulsionou uma série de jovens paranaenses a escrever obras literárias que ainda precisam ser lidas e estudadas, uma vez que radiografam os anos de chumbo a partir de sensibilidades incomuns

 

Entrevista | Ferreira Gullar

Ferreira Gullar é um animal político. O poeta maranhense, talvez o maior versador brasileiro vivo, percorreu quase toda a história da segunda metade do século XX em sua obra. Desde a poesia da juventude, preocupada com a extrema pobreza do Nordeste, Gullar demonstrava a veia combativa. Foi durante o período da ditadura, porém, que o autor abriu as veias e escreveu a sangue. Militante do Partido Comunista do Brasil, participou do grupo de autores teatrais que iniciou a contestação ao regime, meses após o golpe. Depois que o partidão foi colocado na clandestinidade, seus membros começaram a ser perseguidos. Acuado, Gullar fugiu para a Rússia em 1971 e, depois, se fixou em Buenos Aires. Na capital argentina, escreve sua obra mais conhecida. Poema sujo, uma longa recuperação de sua vida, é uma espécie de testamento antecipado. Ele conta ao Cândido, em entrevista realizada por telefone de seu apartamento, que se imaginava sendo capturado por militares argentinos dali a, no máximo, alguns meses. “Tinha que dizer tudo o que faltava ser dito”, lembra. O poeta relembrou os anos de chumbo e falou também sobre o Brasil contemporâneo, objeto de aguerridas análises em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo.

 

Prateleira | Ditadura Militar