Cândido indica

Minha ideia de diversão
Will Self, Geração Editorial, 2002
Num tedioso jantar, uma mulher pergunta a Ian Wharton qual é a sua ideia de diversão. A partir dessa questão, Ian, protagonista deste romance, rememora acontecimentos marcantes desde que, ainda criança, descobriu possuir uma potente memória fotográfica e conheceu um excêntrico homem que seria seu mentor, O Controlador Gordo. Neste que é seu primeiro romance, o escritor inglês Will Self constrói um submundo atormentador, sem medir palavras para descrever situações horrendas e conduzir Ian por uma jornada de descoberta de si mesmo, mostrando sua ideia de diversão — decaptar mendigos, estraçalhar cachorros e assim por diante. 

A janela dos ventos
Jandira Zanchi, Singularidade, 2017
Este livro inaugura o selo Singularidade, novo projeto de Jandira Zanchi. A autora paranaense, agora também editora, dá continuidade à proposta poética já revelada em obras como Gume de gueixa (2013). No poema “Aleluias”, a voz poética escreve o seguinte: “é quase um canto no canteiro do deus/ é quase um beijo na fronteira do eu./ um espasmo entre o centro e o limite/ em que confio a hóstia derramada/ por entre Anjos/ uns celestes cânticos de vírgulas e crases.” Já em “Aguadas”, outro destaque de A janela dos ventos, há o seguinte texto poético: “todas as tardes/ verdes/ que percorri/ em léguas/ aguadas/ por entre/ o pó e o infinito/ guardam-me/ ainda.”

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Aquela música
Luís Pimentel, Myrrha, 2016
Uma das vozes mais instigantes do conto brasileiro é a de Luís Pimentel. Em Aquela música, ele confirma a sua capacidade narrativa, já evidenciada em outras obras. O autor demonstra domínio da arte do conto em “Trilha sonora”, “Quem que eu era?” e “Compositor inédito”. No entanto, um dos momentos de excelência da coletânea é “A música”, que problematiza como um resultado pode ser comemorado ou lamentado, dependendo do ponto de vista. Os contos dialogam com canções e às vezes incorporam trechos de letras de músicas, mas, independentemente desta questão, todas as narrativas se destacam pelas estruturas bem resolvidas, com seus desfechos surpreendentes.

Herzog
Saul Bellow, Companhia das Letras, 2011
Moses Herzog é um intelectual de meia-idade, judeu, americano, abalado por múltiplas neuroses e imerso em uma crise existencial crônica. A descrição poderia ser do personagem-esteta criado por Woody Allen, mas trata-se de uma das melhores criações do romancista Saul Bellow. “Se estou fora do meu juízo, melhor para mim”, diz Moses na primeira linha do livro publicado originalmente em 1961. Com uma linguagem refinada, mas que não respeita o fluxo natural do tempo, a prosa de Bellow acompanha os pensamentos oscilantes do personagem. A publicação de Herzog consolidou seu autor como um dos mais brilhantes escritores americanos.