Cândido indica

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Travessia

Marco Aurélio de Souza, Kotter Editorial, 2017

Marco Aurélio de Souza faz de sua Rio Negro (PR) natal uma Macondo, no caso, cenário de seu livro de poemas Travessia. A exemplo da Itabira de Drummond, a Rio Negro de Souza é apenas uma fotografia na parede. Hoje o autor vive em Ponta Grossa e, a partir da memória, recria os seus anos de formação. Os episódios pessoais são transformados em questões comuns a todos, independentemente de onde a infância tenha acontecido. Dalton Trevisan inventou uma Curitiba, da mesma maneira que Domingos Pellegrini escreveu uma Londrina e Miguel Sanches Neto criou uma Peabiru. Agora, Rio Negro também está no mapa da literatura por meio destes poemas de Marco Aurélio de Souza.

Enquanto houver champanhe, há esperança

Joaquim Ferreira dos Santos, Intrínseca, 2016

Em sua coluna diária no Jornal do Brasil e depois em O Globo, Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997) oferecia ao leitor informações sobre a sociedade brasileira, principalmente a carioca, por meio de um texto elegante, irônico e bem-humorado. O jornalista Joaquim Ferreira dos Santos conta quem foi o colunista em Enquanto houver champanhe, há esperança. Santos apresenta as facetas de Zózimo, do início ao fim trágico. O ponto alto do livro são os relatos dos anos 1970 e 1980, períodos em que o Brasil e a vida noturna carioca se transformavam — mudanças sagazmente registradas pelo colunista.

Contracultura através dos tempos: do mito de prometeu à cultura digital

Ken Foley, Ediouro, 2007

Escrito pelo ativistas e agitadores norte-americanos Ken Goffman e Dan Joy, o livro já começa com um conceito esclarecedor: “a” contracultura não existe. Existem, sim, muitas contraculturas, surgidas nas mais diferentes épocas e regiões do planeta. A partir dessa visão ampliada, Goffman passeia por exemplos que vão dos socráticos ao hackers, passando por trovadores medievais, taoistas, glam rockers, iluministas. Nesse apanhado de grupos que questionaram os valores vigentes de seu tempo, até o Tropicalismo tem seu espaço — retratado como uma importante manifestação contracultural antiautoritária da América Latina.

Cruzando o paraíso

Sam Shepard, Mandarim, 1996

A solidão, melhor companheira dos maiores autores, é matéria-prima para várias histórias desta coletânea de contos do ator, diretor e escritor Sam Shepard. A vida isolada da América profunda rende ótimas e dramáticas histórias, a exemplo de “Vejo você nos meus sonhos”, sobre um ex-combatente do exército que vive só e tem um fim trágico. Os 40 contos trazem ao leitor uma visão bem pessimista do american way of life. Shepard também é dramaturgo, autor de inúmeras peças, além de ter escrito o roteiro de Paris-Texas, premiado filme do alemão Wim Wenders.