Cândido indica

Maior que o mundo
Reinaldo Moraes, Alfaguara, 2018
Após um hiato de dez anos, o paulistano Reinaldo Moraes volta ao romance com Maior que o mundo. O livro, que é o primeiro volume de uma trilogia homônima, acompanha as peripécias do cinquentão Cássio Adalberto, o Kabeto. Vivendo à sombra de Strumbicômboli, seu único sucesso editorial, o “véio” se bate para achar a frase perfeita que inicie uma nova obra. Enquanto ela não vem, Kabeto carrega o fardo de ser um escritor bloqueado e leva uma vida de excessos — putaria, maconha e muita cerveja com steinhäger na mesa do seu boteco favorito, o Farta Brutos, ao lado de gente como o coreano Park e a “mina” que se chama Mina. Há espaço para tudo na nova empreitada de Moraes, do humor mais rasteiro à melancolia, em mais de 400 páginas entupidas de “trocadalhos” e situações hilariantes. 

Grande sertão: veredas
João Guimarães Rosa, Nova Fronteira, 2001
Em um monólogo de quase 600 páginas, o mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) constitui um dos personagens mais icônicos da literatura brasileira. Em Grande sertão: veredas (1956), o protagonista Riobaldo, já de cabelos brancos, rememora as andanças de sua juventude enquanto jagunço de apelido Tatarana, até atingir o posto de chefe como Urutú-Branco, ao lado do amado Diadorim e de figuras como o canastrão Zé Bebelo e o respeitado Joca Ramiro. O leitor, envolvido na inventividade da prosa, aos poucos se habitua com a linguagem e se vê diante duma experiência parecida com à dos pistoleiros em meio ao sertão hostil: precisa estar sempre alerta, atento aos detalhes. Muito sangue e reviravoltas permeiam o enredo deste romance essencial, em que o destino e o capiroto têm papeis fundamentais.

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Putas assassinas
Roberto Bolaño, Companhia das Letras, 2008 (Tradução: Eduardo Brandão) 
A obra de Roberto Bolaño (1953-2003) emana violência, e nos contos de Putas assassinas não é diferente. Em 13 narrativas breves, o escritor chileno volta a conversar com seu próprio e pouco amistoso universo literário, a exemplo do que fez em Chamadas telefônicas (1997) e Amuleto (2008), colocando novamente em cena seu alter ego, Arturo Belano, e outros tipos conturbados que orbitam esse mesmo ambiente de desesperança. Afora diálogos melancólicos, como se a tristeza e o absurdo fossem condições endêmicas da existência, Bolaño põe seus personagens em situações que envolvem necrofilia, brigas, indiferença, cultos obscuros e toda sorte de eventos que constituem essa América Latina recriada literariamente pelo autor. 

Fractais tropicas — O melhor da ficção científica brasileira
Nelson de Oliveira (Org.), Sesi-SP, 2018 
Ao elaborar esse recorte do que há de mais expressivo na ficção científica brasileira, o paulista Nelson de Oliveira contemplou “três ondas”, reunindo representantes de diferentes gerações que transitaram por esse gênero literário e seus vários subgêneros — de Jeronymo Monteiro, um dos precursores do estilo no Brasil, aos contemporâneos Ronaldo Bressane e Andréa del Fuego, passando por Fausto Fawcett e Braulio Tavares. Os autores transitam por vários tipos de narrativas, que vão de viagens no tempo ao esotérico, da inteligência artificial ao cyberpunk, criando e recriando mundos sob perspectivas nem sempre tão otimistas. 

O tempo visto daqui: 85 cronistas paranaenses
Luís Bueno (Org.), Biblioteca Paraná, 2018 
Organizada pelo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Luís Bueno, a coletânea O tempo visto daqui reúne de forma inédita mais de um século e meio de produção e publicação de crônicas na imprensa paranaense. Os leitores vão encontrar desde textos veiculados no jornal O Dezenove de Dezembro, primeira publicação do Estado, a nomes conhecidos do jornalismo e da literatura do Paraná, como Luiz Geraldo Mazza, Jamil Snege, Dalton Trevisan e Cristovão Tezza. Entre as autoras, foram selecionadas vozes com ressonância na vida cultural paranaense, como Raquel Prado, Mariana Coelho e Denise Stoklos.