Biblioteca Afetiva

Das muitas leituras marcantes da adolescência, uma parece ter me deixado uma marca bem mais sensorial que intelectual: o conto “Uma descida no Maelstrom”, de Edgar Allan Poe. Os contos do Poe estão entre os grandes responsáveis pelo despertar do meu interesse pela escrita, por sua capacidade quase inigualável de construir maravilhamentos na imaginação do leitor. É a mesma qualidade que encontramos em obras como Moby Dick ou Grande Sertão: Veredas, um sublime específico que somente a descrição literária pode alcançar. As descrições que o narrador de Poe faz da descida noturna no redemoinho gigantesco, com a lua cheia iluminando as paredes de ébano no abismo tubular, me dão arrepios até hoje, só de lembrar.

Daniel Galera é escritor e tradutor. Autor, entre outros, dos romances Mãos de cavalo (2006) e Cordilheira (2008). Vive em Porto Alegre (RS).


Quando gosto de um ficcionista, quero ler toda a obra e saber tudo sobre o dito cujo. Alguns favoritos: Jorge Amado, Miguel Torga (o contista), Guimarães Rosa, Raymond Chandler. Quando gosto de um poeta, leio a obra toda várias vezes, e nunca me canso, e sempre descubro novas margens de leitura. Neste sentido, Jorge de Lima continua sendo o "autor dos melhores e dos piores versos" da nossa língua — palavras de Mario Faustino — e aquele que me conecta mais intensamente com este mistério a que chamamos "poesia".

Claufe Rodrigues é jornalista e escritor. Vive no Rio de Janeiro (RJ).

Em Conversa na Sicília (Cosac Naify), de Elio Vittorini, Silvestro, após 15 anos, retorna a sua aldeia natal para rever a mãe. Dominado pelas montanhas calcinadas da Sicília, o lugarejo simbolicamente se desgarra da realidade comezinha da vida pregressa do protagonista, passada nas cidades industrializadas do norte da Itália, para criar uma paisagem interna bastante complexa. Pois, nesta obra, o prosaísmo das conversas se impregna da densidade do mito; aqui, tudo são sentidos e materialidade e, ao mesmo tempo, afirmação política em defesa do “gênero humano ultrajado”. De uma beleza indescritível é o esboço da figura do pai, que encenava Shakespeare nas estações de trem da região, ou o inesperado encontro com o irmão. Coisa rara, este livro estupendo deu origem a um filme de igual magnitude — Gente da Sicília, de Jean-Marie Straub e Danielle Huillet, um experimento radical com a linguagem cinematográfica.

Marcos Flamínio Peres é diretor de redação da revista Cult e autor de A fonte envenenada: transcendência e história em Gonçalves Dias (FFLCH-USP/Nova Alexandria). Foi editor do caderno “Mais!”, do jornal Folha de S. Paulo, entre 2004 e 2010. Vive em São Paulo (SP).

Gosto muito de literatura brasileira e, hoje, quero dirigir o olhar para a leitura de um livro especial do Rubem Alves, chamado O amor que acende a lua. Um livro maravilhoso de crônicas. Numa delas, o escritor faz com que eu partilhe totalmente de suas palavras, quando diz: “Não é verdade que o sofrimento torna melhores as pessoas. O sofrimento embrutece, tira a sensibilidade... A única força capaz de fazer as pessoas melhores é o amor”. Boa leitura!

Maria Marta Sienna é bibliotecária e chefe da Divisão de Extensão da BPP. Vive em Curitiba (PR).