5 poetas húngaros

Tradução: DÁNIEL LEVENTE PÁL


TIMUR BÉK

NIHIL

Borra de café na xícara;
a emoção se assenta em mim.
À beira árida de minha ambição
seco a mão seca.

Não desejo e não quero
Este nada é só o meu.
Cobrem-me as pernas, braços
monte de cadáveres de mim mesmo.

Minha vida é uma posposição;
chega debaixo de mim, até que me escale,
correndo por meses,
lânguida guirlanda de cigarros.

Outrora soltei-me da pedra,
E hoje onde fica tanta água?
Sob as torturas estou secando;
leito ou rio fui eu?

TIMUR BÉK nasceu em 1997, em Komló, na Hungria. É professor de literatura húngara no ensino médio e escreve poemas desde 2012.


DEZSÕ KATALIN

ANONYMUS

Desejava ser Deus no campo do homem esquecido,
eu vi lá o céu guerreiro pela primeira vez,
e lá pensava (naquela coisa),
que não seria mais fácil aquele caminho também não, se aprendêssemos
em vez de nós amarmos os outros.

Vivo, porque a vida me ajuda a trabalhar,
E o som é suavizado só pelos trabalhadores no mundo.

Um deus dos muitos anteriores dá a vacina de grandes dores aos miseráveis debaixo,
olham em seu rosto indiferente com desentendimento,
sob tanto sofrimento o universo deve gemer.

Ao fazer sexo, isso também não é nosso por completo
anúncios de preservativos e de lingerie se unem,
a noite de núpcias dá à luz à sociedade de consumo,
não nos fica mais energia para nos afligirmos/enfastiarmos,
porém as nossas rezas são certamente ouvidas,
se as dizemos em voz alta:
que a coalhada custe menos nesta semana
para fazermos dela uma vida mais barata.

DEZSÕ KATALIN nasceu em 1996, em Zalaegerszeg. Atualmente estuda artes liberais na Faculdade de Letras da Universidade de Pécs, no sudoeste da Hungria. Publicou seus textos nas revistas Hévíz e Holnap


DOROTTYA BÁNKÖVI

MULHERES JUNTO À CAMA

Só as mulheres ficaram ao lado do moribundo,
os seus rostos cobertos com pano escuro,
não choraram, não esqueceram.

No consultório sufocante as noites vibraram —
Uma noite para cada uma. Só houve algo em comum:
aqueles que por elas foram rodeados.

Seus olhares,
(como as suas coxas naquele dia)
abriram-se logo escureceram-se.
Viram o corpo separado do espírito,
viram unido o engano, a essência.

O homem deitava na cama,
as almofadas amontoadas atrás de sua nuca suada,
porém como pedra que foi rodada lá
o encosto duro tensionou o pescoço. 

Não falou ele também,
talvez nem estivesse cismando,
a luz saindo dos seus olhos
foi a satisfação —
foi a gratidão mesma.
Logo já não ficou nada,
só o corpo, por piedade ou
obrigação envolvido.

Junto à cama só as mulheres ficaram,
seus rostos deixados livres do pano escuro
são a mancha da morte a sair.

Sabiam o que deviam fazer.
Que tantos anos foram perdidos,
não foi em vão.
Dobraram os lençóis sujos de sangue,
— como se logo no terceiro dia —,
e trocaram de olhares pela última vez. 

DOROTTYA BÁNKÖVI nasceu em 1994, em Budapeste. Obteve o bacharelado em Letras Húngaras pela Universidade Eötvös Loránd (ELTE) em 2017. Atualmente trabalha como jornalista cultural e se dedica à literatura, escrevendo prosa e poesia.


DÁNIEL LEVENTE PÁL

TIRO/ARRANCO ESTE POEMA PARA SEU COLO

Tiro este poema para seu colo,
brinquemos que me ama ou não me ama,
de tal maneira, que nenhuma planta o entenda.

O telefone não tocava, nem a consciência,
o rio gemia,
caso desse à luz uma nova gaivota.

Me ama, não me ama, me ama,
você deixa sair os papéis no vento,
que eu não arranque mais este meu poema.

DÁNIEL LEVENTE PÁL nasceu em 1982. É poeta, escritor, editor e dramaturgo. Publicou quatro coletâneas de poemas e um livro de contos. Entre 2012 e 2016, foi o editor-chefe de uma das maiores editoras universitárias da Hungria, a ELTE University Press. Vive no oitavo distrito de Budapeste, a maior favela urbana da Hungria. 


JÁNOS DÉNES ORBÁN

EPÍLOGO PARA O OUTRO TIGRE

En buscar por el tiempo de la tarde
El otro tigre, el que no está en el verso.
(Borges: El otro tigre)

O outro tigre, o que não está/falta nos versos
— o que também não está/falta na minha vida —
é triste, e deseja a vida.
Como eu (desejo) a minha morte e aquilo,
que lute com ela com as próprias mãos.
me encantaria (vê-lo) ao saltar na minha direção
no crepúsculo denso e sangrento-verde,
e de símbolo vai ser a realidade redentora.
Eu o abraço, ele me retalha o corpo,
eu o sufocaria, até que na terra ancestral
todo meu sangue e toda minha paixão se espalharem.
E enquanto estou andando em direção da luz do além,
entre as lianas cambaleia lentamente
o meu tigre que abracei uma vez,
e que nunca mais será raiado por versos de poemas. 

JÁNOS DÉNES ORBÁN nasceu em 1973, em Brasso, na Transilvânia. É autor de 15 livros, de poesia e prosa. Em 2001, com a bolsa de estudo Herder tornou-se aluno do Nobel Imre Kertész em Viena. Suas obras foram traduzidas em dez línguas. Atualmente é diretor do instituto de desenvolvimento de talentos do estado húngaro em Budapeste.