ESPECIAL | Prateleira 20/01/2025 - 13:09
O Cândido indica alguns títulos que exemplificam a relação entre literatura e música, desde os mais recentes até os clássicos, com a curadoria da jornalista que assina a matéria principal. Confira:
Febre de Carnaval (Bazar do Tempo, 2024)
Yuliana Ortiz Ruano
Assim como o colombiano Andrés Caicedo, a equatoriana Yuliana Ortiz Ruano também incorpora radicalmente as sonoridades afrolatinas dos trópicos à narrativa de seu romance. A obra que tem no carnaval seu cenário simbólico — onde a alegria e o drama se entrelaçam —, e revela um universo no qual uma pequena garota, Ainhoa, é forçada a amadurecer rapidamente. Com uma prosa ritmada como os sons vibrantes da rumba e da salsa, a autora tece um retrato comovente e poético das heranças afrodescendentes, das cicatrizes deixadas pelo patriarcado e das complexidades sociais vividas por uma região marginalizada das Américas.
O Perseguidor (Cosac Naify, 2012)
Julio Cortázar
Cortázar era um grande fã de jazz, gênero musical que conheceu melhor em seu autoexílio em Paris na década de 1950, e escreveu este livro inspirado na vida do saxofonista americano Charlie Parker (1920–1955), em 1959. Considerada uma de suas obras preferidas, Cortázar consegue imprimir um ritmo musical na história, como se houvesse uma trilha sonora nas entrelinhas.
Só garotos (Companhia das Letras, 2010)
Patti Smith
Completando 15 anos de sua publicação, este é um celebrado relato autobiográfico sobre a amizade e a trajetória artística de Patti Smith e Robert Mapplethorpe em Nova York, ícones da contracultura norte-americana e referências incontornáveis para diversas gerações. O livro carrega um olhar íntimo sobre o nascimento do punk rock e a confluência entre poesia e música na vida de Smith a partir de sua relação de amor, amizade e parceria com Mapplethorpe. A obra é um retrato apaixonado e confessional da contracultura estadunidense dos anos 1970, desfiado por uma de suas maiores expoentes vivas.
A Garota da Banda (Rocco, 2015)
Kim Gordon
Uma autobiografia da cofundadora da banda Sonic Youth, refletindo sobre sua carreira musical e a vida como mulher no cenário do rock alternativo. Começa de trás para frente, partindo de dois términos entrelaçados: o divórcio com Thurston Moore, parceiro na fundação da Sonic Youth, passando por detalhes sobre o fim da banda, fato recebido com grande impacto pelos fãs e pela mídia especializada. Mais do que um livro sobre uma cena artística ou uma época específica, Gordon fala do casamento, maternidade, feminismo, seu background familiar, e da paixão pelas artes visuais e música. Um livro não só para fãs, mas também para quem se interessa por histórias de mulheres que pavimentaram duramente alguns importantes caminhos.
Jazz (Companhia de Bolso, 1992)
Toni Morrison
A história ambientada no Harlem dos anos 1920 é uma meditação sobre amor, dor e traição, com o jazz como força motriz. Toni Morrison trabalha uma trama que começa com o feminicídio de Dorcas, jovem assassinada pelo amante, Joe Trace, um vendedor de perfumes já na meia-idade. Sua esposa, Violet, marcada pela obsessão e pela angústia, invade o funeral e tenta desfigurar o rosto da jovem morta. A partir desse ato inicial de violência e desespero, Morrison desdobra uma narrativa na qual passado e presente se entrelaçam para revelar histórias de amor, traição, perda e ancestralidade, escancarando feridas afro-americanas jamais cicatrizadas.
Últimos Cantos (Martin Claret, 2019)
Gonçalves Dias
Escrito em 1851, o livro reflete uma fase de transição na obra do autor. A métrica e o ritmo são fundamentais para a construção da musicalidade dos poemas. “I-Juca-Pirama”, por exemplo, narra a história de um indígena capturado por uma aldeia rival durante uma batalha. Nesse contexto, as estrofes apresentam um ritmo que, ao ser lido, remete ao som de tambores ou até mesmo a uma marcha de guerra.