ESPECIAL | Hilda Hilst
28/02/2023 - 14:19
Voy a naufragar en el Mar Paraguayo
Em sua edição de número 46 (novembro / dezembro de 1992), o jornal Nicolau publicou uma matéria sobre “três das muitas vertentes de uma obra que, para além dos gêneros, se quer empenhada apenas na depuração do óbvio”. Wilson Bueno, o editor e assunto da reportagem, não participou da produção daquelas páginas, avisava uma nota. Assinado por vários autores, o material traz a participação de Hilda Hilst, com um poema sobre Mar Paraguayo.
O texto, no entanto, não consta na antologia Da Poesia, de Hilda, lançada pela Companhia das Letras em 2017. Além do poema, o Cândido reproduz dois verbetes do elucidário proposto por Wilson em Mar Paraguayo.
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Voy a naufragar en el Mar Paraguayo
Só pra te assustar — añaretãmeguá!
Voy a naufragar vieja loca que soy
Vieja loca perdida, vieja loca señora
Tan dolorida — añaretãmeguá!
Me voy a morir en el Mar Paraguayo
Y acerte llorar. Porque isso fizeste:
Me fizeste chorar com essa língua de flor
Estilete-tulipa-añaretãmeguá!
Vou correndo pro mar, “entrepernas” noturnas
Colorir e embalar
O teu texto de cunas — añaretãmeguá!
Que remansos!
Que babas!
Que salivas candentes!
Que cobras tão meninas!
Que cabras-asinas-añaretãmeguá!
Voy a naufragar en tu Mar Paraguayo
Só pra te assustar. E ficar cativa
Da tua rede de teias
Da tua língua de pêlos
Do teu corpo vermelho
Amado andirá-añaretãmeguá!
*
Elucidário
AÑARETÃMEGUÁ: infernal; coisa infernal.
ANDIRÁ: morcego.