ESPECIAL | Capas Seventeen 16/08/2024 - 16:22
Embora a Seventeen tenha inaugurado o formato de revistas para adolescentes, algumas de suas características, como as capas, são influenciadas por outras publicações impressas, especialmente as revistas de moda adulta, como a Vogue, fundada em 1892 pelo empresário nova-iorquino Arthur Baldwin Turnure. A ilustração de modelos nas capas, por exemplo, é uma técnica clássica de comunicação visual usada para atrair novos(as) leitores(as). No entanto, por se dirigir a um novo público, a Seventeen, mesmo seguindo uma linha semelhante na construção de suas capas, foi introduzindo pequenas alterações, especialmente nos primeiros anos, adaptando as modelos e as chamadas de cada edição. A emergência de pautas sociopolíticas também colaborou para as mudanças. Confira cinco capas que refletem essas adaptações:
Setembro de 1944: É a primeira capa da Seventeen. A jovem, sorridente e segurando o número 17, domina quase toda a página e estabelece o padrão do que viria a seguir. Sua imagem está em perfeita sintonia com o editorial de abertura da edição, ela personifica o tipo de jovem que dá identidade à revista. É o público com quem Helen Valentine, a editora-chefe, queria dialogar, e a imagem que desejava vender aos anunciantes.
Janeiro de 1945: Logo após o lançamento da revista, Valentine queria promover a imagem de uma jovem que não apenas se interessava por moda e garotos, mas que também estivesse preparada para se engajar nas discussões sociopolíticas que fervilhavam no pós-guerra. Isso fica evidente na capa da edição, que mostra uma jovem segurando um livro em frente a um mapa-múndi.
Novembro de 1946: A relação entre adultos e parte das juventudes é historicamente conflituosa. Antes desse novo formato de publicação, os adolescentes tinham pouca oportunidade de legitimar suas concepções de mundo. Nesta edição da revista Seventeen, as garotas recebem orientações sobre como influenciar seus pais a mudarem de opinião em relação a determinados temas, incluindo a questão da autonomia da geração leitora. A chamada de capa deixa claro quem são os polos da discussão: “seus pais e você”.
Janeiro de 1950: A Seventeen precisava reafirmar constantemente para as empresas que a revista era lida e, mais importante, influenciava as adolescentes. Somente assim, com o apoio dos anunciantes, poderiam manter as portas da redação abertas. A capa da edição apresenta uma montagem em camadas, onde as leitoras, com franjas da moda, leem a própria edição em que aparecem.
Novembro de 1972: Nessa época, as pautas raciais (e também as de sexualidade) começaram a ganhar espaço na vida das leitoras. Até então, a publicação abordava essas questões em pequenos artigos, que raramente recebiam destaque. Joyce Walker-Joseph foi a primeira modelo negra a estampar toda a capa da Seventeen. Meses depois, ela se tornou uma importante representante do movimento Black is Beautiful, que buscava eliminar a ideia de que as características naturais dos negros eram inerentemente feias.
Lucas Daniel de Lima (2001) nasceu em Curitiba. Formado em jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, foi vencedor na 14ª edição do Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, em 2022. É repórter no jornal Cândido.