EDITORIAL | Biblioteca pública: espaço de memória, movimento e imersão 20/12/2023 - 11:49

A Biblioteca ressignifica o espaço e amplia o livre acesso ao conhecimento e à cultura

Por Luiz Felipe Leprevost

 

A Biblioteca Pública do Paraná exerce um papel social determinante para a formação e inclusão dos indivíduos na cultura, ou melhor, nas culturas. É seu papel, além da disseminação da informação, também a inserção das comunidades ao conhecimento e suas práticas variadas. A partir desse fundamento, temos considerado a intenção de, continuamente, preservar, aprimorar e reinventar esse espaço público tão especial.

Cada cidadão e cidadã que vêm à Biblioteca é participante orgânico e ativo desse processo constante de atualização dos conceitos que alicerçam o nosso trabalho, uma vez que a Biblioteca, embora guarde a memória histórica, porque se faz viva no presente, cria memórias para o amanhã.

Quando entramos no seu espaço, a Biblioteca nos convida para uma imersão no extraordinário. Somos instigados a nos deslocar da nossa vida comezinha, da rotina repetitiva, para experienciar universos diferentes, universos que abundam nas páginas dos livros que transbordam das prateleiras. A Biblioteca Pública do Paraná é uma nave — terrestre, aérea ou subaquática — que nos leva.

Estamos nos referindo então à familiaridade com um acervo imenso, de muita qualidade e diversidade. É preciso garantir o acesso a tudo isso, oferecer ao público a certeza da presença física dos livros, a possibilidade de manipulação tátil, para que crianças em formação e mesmo adultos se tornem e se mantenham leitores.

A Biblioteca Pública do Paraná, entre outras coisas, é uma generalização do livre acesso ao conhecimento.

Os livros, esses objetos transcendentes (como cantou Caetano Veloso), essencialmente se oferecem a uma prática individual de leitura, mas, no fundo, são, se podemos chamar assim, uma tecnologia de uso coletivo. Ainda mais os livros que o destino faz chegar às bibliotecas públicas.

A leitura é, sem dúvida, uma história de encontros.

Sobre os encontros, permitam-me dizer algo singelo sobre a prática do empréstimo. O empréstimo é uma ferramenta que deixa o livro comprometido ao retorno. Mesmo que a devolução atrase meses ou anos, tanto o bibliotecário quanto quem emprestou o livro continuam, de algum modo, conectados. Mesmo o livro não devolvido ainda é um elo forte entre aquele que um dia levou o exemplar e a Biblioteca. Uma relação subjacente se mantém.

Com isso, quero dizer que o livro, ao mesmo tempo que nos impulsiona para o futuro, também nos faz sempre retornar. Retornar a ele, retornar a nós mesmos, retornar à história da humanidade e, no caso dos livros emprestados, retornar à Biblioteca.

Muitas vezes trabalho até tarde na minha sala, até um horário em que quase todos já foram embora. É quando consigo escutar um silêncio especial, um silêncio que existe dentro dos silêncios. Acho que vocês já puderam experimentar essa qualidade de quietude. Nessas horas, posso sentir com força o espírito da Biblioteca Pública do Paraná, com os seus 166 anos de existência e seu acervo de mais de 730 mil itens, entre livros, documentos, periódicos e partituras.

E me emociono com sua missão de preservação da memória, incentivo e promoção da leitura e da cultura de modo geral. A sua missão social me sensibiliza, especialmente por se tratar de um espaço para todas e todos, um espaço de liberdade, oferecido gratuitamente.

É uma grande honra e alegria dirigir um aparelho de cultura de suma relevância que, para além de ser uma das mais destacadas bibliotecas públicas do país, também tem cada vez mais se firmado como espaço cultural. E digo, do fundo do coração, que dirigir esse espaço é o mínimo, perto do trabalho exemplar, amoroso e dedicado das bibliotecárias e dos bibliotecários com quem divido o dia a dia, com nosso quadro de terceirizados e estagiários (e, especialmente, com o nosso público).

Bibliotecários e bibliotecárias são profissionais que atuam na gestão da informação e na mediação do conhecimento. A sua missão é fundamental para a formação da cidadania e da identidade cultural de nossas comunidades. São o coração pulsante das bibliotecas.

É por demais valoroso que exista quem acredite verdadeiramente nessa circularidade. Voltando aos livros estamos sempre nos voltando às pessoas.