Reingresso 10/01/2019 - 13:00
“Tenho muito interesse pela questão da migração e pelos refugiados que têm chegado ao país nos últimos anos, mas queria entender mais sobre esse universo”, diz a jornalista e fotógrafa Isabella Lanave, justificando a escolha do tema deste ensaio. Com pouco tempo para realizar o trabalho, ela partiu para a Universidade Federal do Paraná, onde são desenvolvidos seis projetos de extensão voltados ao acolhimento e apoio de estrangeiros que estão reconstruindo a vida no Brasil. O resultado da empreitada é uma série de retratos — especialidade de Isabella — de pessoas que reingressaram ao ensino superior após uma interrupção forçada dos estudos em seus lugares de origem.
São seis “colaboradores” (ela não gosta de usar o termo “personagens”), de diferentes nacionalidades, que contam suas histórias e revelam objetos pessoais ligados às suas casas anteriores e memórias afetivas. “Eu não tinha ideia do que iria encontrar lá. Acabei conhecendo trajetórias incríveis e inspiradoras, de gente com muita força e coragem. Mas é importante dizer que estas pessoas estão fortes porque existem políticas específicas voltadas para elas”, afirma.
Citada pela revista norte-americana Time em uma lista com as 34 fotógrafas mais promissoras em atividade ao redor do mundo, Isabella também se especializou em retratar figuras “fora da curva” (“marginalizadas” é outra palavra que ela evita). Seu trabalho mais conhecido, Fátima, é um mergulho na doença da própria mãe, portadora de Transtorno Bipolar. Ou seja: o foco são os estigmatizados, como os migrantes e refugiados que hoje estudam na UFPR.
“Quis mostrar, contrariando o senso comum, que essas pessoas têm ocupações e objetivos. Elas não estão no Brasil paradas, esperando, sem fazer nada”, diz Isabella, cujo maior desafio foi conseguir se conectar com os retratados, e deixá-los à vontade, em um curto período de tempo (o contrário do que costuma acontecer em seus trabalhos). “Sei o quanto uma imagem pode mexer com alguém. Por isso tomei muito cuidado em ser respeitosa. Minha vontade, agora, é reencontrá-los, conhecê-los melhor e — quem sabe? — fotografá-los em lugares e situações que eles mesmo escolherem”, completa.
Fotos de Isabella Lanave