Biblioteca Afetiva

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Como a esmagadora maioria das crianças brasileiras de minha geração — numa época em que não havia TV, internet e videogame —, minhas primeiras leituras de livros, depois da fase de gibis e revistas infantis, foram as obras de Monteiro Lobato. Um mundo de fantasia e de informações novas, tudo amalgamado pela fértil imaginação lobatiana. Me dei bem com todos os personagens do Sítio do Picapau Amarelo, menos com a boneca Emília. Detestava quando ela abria a “torneirinha de besteiras”. E até hoje fujo de pessoas que costumam imprevistamente abrir essa malfadada torneirinha. Viro a página.

Hélio de Freitas Puglielli
é autor dos livros Para compreender o Paraná e O ser de Parmênides chama-se Brahma. Jornalista, lecionou durante décadas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Vive em Curitiba (PR).



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Meu livro para a Biblioteca Afetiva é Autobiografia precoce, de Eugênio Evtuchenko, editado nos anos 1960, quando o poeta era o “rebelde oficial” do regime soviético. O livro é médio, retrata a realidade da União Soviética pós-Stalin como pano de fundo. Corta para os anos 1980. Dei o livro de presente para meu amigo Álvaro, leitor compulsivo, a quem eu emprestava muitos livros. Anos depois, apareceu um menino que me deu um envelope dizendo que o Álvaro mandara “devolver”. Era a autobio de Evtuchenko. Um mês depois, a notícia: Álvaro morreu, aidético. Ele estava se despedindo de mim e eu nem percebi.

Rene Ferri é jornalista, colaborador da extinta revista de música Bizz e criador e da loja/selo Wop Bop. Vive em São Paulo (SP).