POESIA | Lawrence Ferlinghetti 30/06/2022 - 10:31
Pena da nação (à maneira de Khalil Gibran)
Pena de um país cujo povo são ovelhas
Cujos pastores as desencaminham
Pena da nação cujos líderes são mentirosos
Cujos sábios são silenciados
E cujos fanáticos assombram as ondas do rádio
Pena da nação que não levanta a voz
A não ser para exaltar conquistadores
E aclamar o valentão como herói
E quer mandar no mundo
Na base da força e da tortura
Pena da nação que não conhece
Nenhuma língua a não ser a sua
Nenhuma cultura a não ser a sua
Pena da nação que respira dinheiro
E dorme o sono dos bem-alimentados demais
Pena da nação ah pena do povo
que deixa seus direitos serem corroídos
e suas liberdades varridas do mapa
Pátria amada, lágrimas de ti,
Gentil terra da liberdade!
*
Pity the nation (a fter Khalil Gibran)
Pity the nation whose people are sheep
And whose shepherds mislead them
Pity the nation whose leaders are liars
Whose sages are silenced
And whose bigots haunt the airwaves
Pity the nation that raises not its voice
Except to praise conquerors
And acclaim the bully as hero
And aims to rule the world
By force and by torture
Pity the nation that knows
No other language but its own
And no other culture but its own
Pity the nation whose breath is money
And sleeps the sleep of the too well fed
Pity the nation oh pity the people
who allow their rights to erode
and their freedoms to be washed away
My country, tears of thee
Sweet land of liberty!
Nota do tradutor: O poema de Ferlinghetti, de 2007, foi inspirado em um poema de mesmo título publicado em 1933 pelo autor libanês Khalil Gibran (1883-1931) em O Jardim do Profeta.
Lawrence Ferlinghetti (1919-2021) foi um dos maiores poetas e editores norte-americanos da segunda metade do século 20. Pintor, dramaturgo, e ativista político, publicou mais de 40 livros (entre ficção, poesia, autobiografia e crítica de arte). Um Parque de Diversões da Cabeça (1958) é um dos maiores best-sellers de poesia da história americana, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos. À frente da hoje lendária editora City Lights (a primeira livraria alternativa da Costa Leste), colocou San Francisco no mapa da vanguarda literária.
Rodrigo Garcia Lopes é poeta, romancista e tradutor. Autor de O Trovador e O Enigma das Ondas, entre outros. Prepara Poemas Coligidos 1983-2020, a ser lançado em breve pela Kotter Editorial. Site oficial: rgarcialopes.wix.com/site.