FOTOS | Cândido Lopes, 133 ? 30/03/2022 - 16:17

 

Na década de 1950, o mundo respirava os ares de um pós-guerra e o governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha Neto, concebia a construção de uma série de prédios oficiais em estilo moderno. O Centenário da Emancipação Política do Estado estava próximo e as obras comemorativas buscavam estabelecer um novo marco arquitetônico para Curitiba. O intuito era promover a transição de uma capital de caráter provinciano rumo a um futuro cosmopolita, por meio de uma estética urbana ligada à ideia de progresso. Dentre os frutos dessa iniciativa surgiram o conjunto arquitetônico do Centro Cívico, o Teatro Guaíra e o prédio da Biblioteca Pública do Paraná, menina dos olhos do então governador.

A história da Biblioteca confunde-se com a do próprio estado: embora a instituição tenha sido fundada em 1857 — as comemorações do aniversário de 165 anos aconteceram neste mês de março —, ao longo de quase um século seu acervo migrou pelas dependências de outros órgãos públicos. Foram 12 mudanças de endereço até a conquista da sede própria, com projeto assinado pelo jovem engenheiro civil curitibano Romeu Paulo da Costa.

Atento à funcionalidade das instalações, Romeu foi ao Rio de Janeiro para consultar a bibliotecária Lydia de Queiroz Sambaquy. Muito respeitada por seu ofício, a profissional vinha de uma linhagem de figuras públicas eminentes, a exemplo de sua prima, a escritora Rachel de Queiroz. Da virtuosa parceria entre Lydia e Romeu resultaram a setorização da BPP por assuntos e o sistema de livre acesso, que permitiu aos usuários buscar pelas publicações de forma autônoma, como em uma livraria. Até então, nenhuma outra biblioteca brasileira oferecia essa inovação.

Sob um ritmo de trabalho intenso, a Biblioteca tomou forma em surpreendentes oito meses e foi a primeira das construções comemorativas do Centenário a ficar pronta, em 1953. De casa nova e endereço fixo, seria inaugurada um ano depois, com direito a pompas oficiais e à presença do Presidente da República, Café Filho.

Em dezembro de 2003, desta vez por ocasião dos festejos de 150 anos da Emancipação Política do Paraná, a BPP foi tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual, em reconhecimento ao seu lastro para a memória paranaense.

 

Espaço-tempo

Desde a inauguração, o prédio da Biblioteca Pública passou por duas grandes reformas dedicadas a restaurar a edificação, ampliar a capacidade do acervo, adaptar sua rede à era digital e modernizar seus ambientes. Da comunicação visual ao mobiliário, tudo é um convite às novas gerações de frequentadores (e aos nem tão jovens assim). Em sintonia com seu tempo, a instituição segue sendo referência em pesquisa, empréstimo de livros, consulta de periódicos e de uma variedade de bens culturais como fotografias, filmes e peças gráficas, só para citar alguns.

Num momento em que as pessoas se reconectam com espaços públicos e reatam laços comunitários, a BPP se reafirma como epicentro cultural da cidade, um lugar democrático onde convivem visitantes de todas as formações e interesses.

Além do seu valor arquitetônico e afetivo, o edifício da Rua Cândido Lopes, que completará 70 anos em 2023, abriga e protagoniza a história a um só tempo — prova material de que, como organismo vivo, a Biblioteca Pública do Paraná jamais envelhece… reinventa-se.

 

 

Alessandra Moretti é mestre em Comunicação e Linguagens / Cinema. Trabalhou como redatora, roteirista e diretora de audiovisuais até se render à fotografia de arquitetura. Mantém o Instagram @alemoretti.foto

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