Um Escritor na Biblioteca | Marina Colasanti

Da Redação

A edição de outubro do projeto Um Escritor na Bibliote­ca celebrou a trajetória de Marina Colasanti, que acaba de completar 80 anos. São cinco décadas dedicadas à escrita,em diferentes frentes, como o jornalismo, a crônica, a poe­sia e a prosa de ficção. Essa intensa produção rendeu a Colasanti 60 livros, publicados em português e em diversas outras línguas,além de dezenas de prêmios literários e milhares de leitores.

No bate ­papo conduzido pelo escritor Miguel Sanches Neto, a autora nascida em Asmara, capital do país africano Eri­treia, contou como a vida e a personalidade dos pais contribuí­ram para que tenha se tornado escritora. “Não tínhamos ami­gos, não conhecíamos ninguém, não brincávamos na rua, então nossos pais foram à livraria e compraram uma coleção que havia sido feita a pedido do Regime. E aí caíram no nosso colo, meu e do meu irmão, Homero, a Ilíada e a Odisseia”, diz Colasanti, que viveu na Itália durante a Segunda Guerra Mundial e chegou ao Brasil em 1948, para não sair mais.

Entre os gêneros que a escritora investiu, o conto tem lu­gar de destaque. O estudo da temática que gravita no centro de suas histórias, segundo ela, é essencial em seu método de escri­ta. “Quando trabalho com minicontos, gosto que eles sejam te­máticos, que além dos fragmentos, o leitor receba, sem perceber,um ensaio sobre o assunto.”

A literatura infantojuvenil e, mais especificamente, os contos de fadas, também deram a Colasanti muitos leitores — mas também certo estigma. Para ela, a literatura feita para crianças sofre preconceito e os escritores que se dedicam ao gê­nero são relegados ao “chiqueirinho da literatura”.

Apesar dos percalços, a escritora se diz contente com a própria obra, que não para de crescer — estão no prelo dois no­vos livros, que devem sair em breve. Para Colasanti, a diversidade de seus escritos formam um pai­nel representativo de sua atuação como autora. “Nunca fiz uma selfie, mas esse painel é minha selfie. E acho que ele me representa bem.” A seguir, confira os principais momentos da conversa.

Fotos: Kraw Penas
Marina Colasanti


Primeiras histórias
Não me fiz leitora, sempre fui leitora. Não tenho nenhuma memória de uma vida sem livros. Também não tenho nenhuma experiência de oralidade. Ninguém me contou histórias de fantasmas, de folclore. Liam para mim. Então tenho a impressão de que sempre li. A maior emoção que tive, que de certa maneira decidiu minha vida leitora, foi entre os meus 6 e 7 anos, quando estávamos no final da Segunda Guerra Mundial.

Tempos de guerra
Saímos da África quando a Itália declarou guerra à França, entrando na Segunda Guerra, em 1940. Portanto, passei os 5 anos de guerra na Itália. Estávamos no norte do país e nos deslocá­vamos porque, à medida que o conflito ia acabando no sul, meu pai era transferido para outro lugar. Ele era fascista e queria ficar com o Regime. Então a gente ia se deslocando porque as cidades iam ficando perigosas. E nessas andanças, nada se leva. Quando você se desloca numa guerra, a única coisa importante que se leva é o brilhante de casamento. O da minha mãe era costurado na bainha de um vestido. 

Refúgio nos livros
Não tínhamos amigos, não conhecíamos ninguém, não brincávamos na rua, então nossos pais foram à livraria e compraram uma coleção que havia sido feita a pedido do Regime. Eram adaptações dos clássicos feitas para três níveis: os pequeninhos, crianças até 13 anos e os jovens. Meus pais se equivocaram e compraram os livros do meio. Graças a Deus, foi uma maravilha. E aí caíram no nosso colo, meu e do meu irmão, o Arduíno Colasanti, Homero, a Ilíada, Odisseia, etc. Então estávamos em uma cidade cinzenta, uma sala de jantar toda forrada de lambri escuro, mergulhados com Kipling na selva, na Índia, etc.

Diários
Até meus 9 anos eu escrevia diários. Depois, quando vim para o Brasil, deixei de fazê-los. Quando minha mãe morreu, aos 40 anos, tive a sensação, absolutamente clara e inabalável, de que eu teria que viver a vida por duas pessoas — por mim e por ela. E que eu teria que prestar uma atenção de bode na canoa na vida, porque a vida era tão preciosa e minha mão já não a tinha mais. E comecei a escrever diários outra vez, como cartas endereçadas à minha mãe. Isso com 16 anos. Mas depois percebi que não eram cartas à minha mãe, mas a mim mesma. Até hoje tenho diário, que é escrito em italiano.

Marina Colasanti

Marina Colasanti e Miguel Sanches Neto no auditório da BPP.

Destino dos diários
Não sou a Anaïs Nin. Portanto não quero usar a minha vida nem a vida alheia para exibições. É um diálogo comigo, muito íntimo, por vezes chatérrimo, repetitivo. Quando a gente é jovem e está apaixonado, repete sempre a mesma coisa, é de uma inutilidade incrí­vel. Mas esses escritos foram muito úteis para mim, porque era uma maneira de fazer análise sem terapeuta.

Autoficção
Não tenho nenhum oportunismo. E seria um oportunismo transformar em romance, que é um produto amado pelo público e pelos editores, aquilo que é a realidade da minha vida. Minha guerra alheia, meu livro de memórias, é absolutamente sincero: fiz um trabalho de pesquisa considerável, porque tinha que adequar minhas lembranças ao entorno, e o entorno, quando eu era criança, for­çosamente não era claro, então tive que fazer um trabalho de pesquisa, mas para isso eu sou jornalista, né? É o casamento de uma grande reportagem com uma vivência intensa, mantida como tal.

Contos
Para fazer o livro Contos de amor rasgado, que repercutiu bastante, antes escrevi um ensaio chamado “E por falar em amor”. Quando trabalho com minicontos, gosto que eles sejam temáticos, que além dos fragmentos, o leitor receba, sem perceber, um ensaio sobre o tema, um estudo, que esses contos, entretecidos, formem um discurso. Tendo estabelecido os suportes do tema, faço uma pauta — como boa jornalista — dos elementos compositivos daquilo que quero falar, e só aí que vou escrever as histórias, atendendo a esses elementos para depois fazer um painel. Então quando eu fui fazer Contos de amor rasgado, achando que eu sabia tudo, porque eu estava trabalhando há mais de dez anos com o tema amor, em revista, como editora de comportamento, percebi que estava fazendo uma bagunça total, porque é um tema muito conspurcado, muito aproveitado comercialmente. Aí fui reler tudo o que eu podia, para poder me situar. Quando acabei as leituras, percebi que poderia fazer um ensaio. Só aí estava segura para escrever os meus contos. 

Minicontos
Um miniconto não é uma piada, não é um haicai. Ele é uma surpresa. Funciona quando é uma surpresa, quando é um olhar de cabeça para baixo. Olhar a coisa que todo mundo vê de outra maneira, e apresentar essa coisa de outra forma. É muito difícil como estrutura e como forma. Porque se você tira demais, ele não abre a porta para o leitor. Se você bota demais — e demais pode ser uma palavra — ele fica encharcado e pesa, não voa. É muito apaixonante fazer minicontos. Eu passei muitos anos sem fazer porque o gênero virou uma mania nos cursos de criação literária, como se fosse um produto fácil, e não é. É o mais difícil. 

Feminista
Refleti sobre tudo em relação à mulher. Sou feminista de carteirinha, tenho crachá em casa. Se eu tivesse um epitáfio — o “se eu tivesse” não é porque eu não acho que vou morrer, mas porque já assinei os papeis para ser cremada, então não terei epitáfio —, ele seria assim: “Aqui jaz Marina Colasanti, a mulher que viveu por um fio”. Porque eu tenho sempre um fio na mão: eu costuro, faço minha roupa, faço crochê, faço tricô, fiz um tapete para ver como era fazer um tapete, fiz um par de um sapato tipo sandália nipônica de palha para ver como era fazer isso. Gosto de poder fazer as coisas. Preciso saber que eu sei fazer as coisas. Gosto de fazer a minha comida. Devo ser uma das pouca pessoas que, tendo a melhor pizzaria do Rio de Janeiro na esquina de casa, faz a sua própria pizza. Porque eu gosto. Não sei se isso é feminino ou não. Por tradição, fomos obrigadas a absorver essa parte, mas não sei se, nascendo em outro mundo, outro universo, outras condições, as mulheres têm mais aptidão para isso. Mas nós sempre alimentamos as ovelhas e fiamos a lã delas e tecemos o fio que saiu dos nossos dedos.

Rotina
A rotina ideal que eu penso para mim, é em um escritório enorme, com uma mesa grande, uma prancheta para eu desenhar, luz que eu possa controlar de cima. Um ateliê. Mas não tenho possibilidade de rotina, porque a vida é muito movimentada. Agora, por exemplo, é um período em que estou indo de um aeroporto a outro, arrastando a minha malinha. Chego em casa, troco a mala, pego outro aeroporto... No princípio do ano, janeiro, fevereiro, abril, maio, escrevo. Mas nem aí há rotina.

Empreitada
Eu só trabalho por projeto. Talvez no começo tenha sido minimamente diferente. Mas se eu misturasse os momentos de criação, ia ficar uma bagunça no meu coração e na minha mesa, uma coisa insuportável. Estabeleço que o livro do ano é tal. Aí vou dar conta. Sou uma carrasca. A poesia corre em paralelo, porque poesia requer muita revisão, muito manuseio, um ir e vir que não acaba. É um trabalho ensurdecedor, digamos assim. Então ela corre paralela. Mas eu trabalho por gêneros, e alterno porque quando estou em outro gênero, como tenho que ligar o meu radar em outra direção, colho coisas diferentes que depois renovam quando eu voltar para outro projeto.

Marina Colasanti

Conto de fadas
O primeiro conto de fadas apareceu na minha vida quase por acaso. Fiquei paralisada. Soube imediatamente que queria continuar fazendo aquilo. E não sabia como fazer, fiquei cheia de questionamentos, sobre o que podia dizer para as crianças, o que não devia dizer às crianças, que linguagem usar, quais as palavras, etc. Aí disse a mim mesma que não era nada daquilo. Pensei: “Você vai escrever para a escrita, vai escrever para você. Você não é criança, não sabe como são as crianças, as crianças são todas diferentes, as crianças não tem a idade cronológica que o mercado quer que elas tenham”. Elas são leitoras de grande percepção. Se não souberem uma palavra, vão procurar e ótimo, ganham uma palavra a mais. Coloquei na minha cabeça que iria escrever para mim. Qualquer outra coisa seria falsificação. Então assumi que queria escrever literatura. E que não queria nada de oralidade. O que não tenho. Affonso [Romano de Sant’Anna] brinca dizendo que eu falo por escrito. Porque não tenho nenhuma intimidade com a oralidade. A minha linguagem é uma linguagem escrita.

Artista visual
Minha relação com as artes plásticas é um pouco sofrida. Porque era o que eu queria ser inicialmente. Venho de uma família de artistas, meu avô era crítico de arte, autor de muitos livros. E eu estudei pintura. Jovem, antes da minha mãe morrer, já estava estudando desenho, depois fiz belas artes, gravura e metal. Começava uma carreira de artista plástica quando fui para o jornalismo. E indo trabalhar em jornal, embora ilustrasse de vez em quando algumas páginas, as artes plásticas ficaram meio abandonadas. No meio do percurso, recomecei a pintar. Fiz duas individuais. Depois meu marchand foi embora para a Bahia e, como não sei vender nada, acabei parando de pintar. Só retomo quando ilustro meus livros. Acabei de ilustrar dois que saíram recentemente, e sempre é uma coisa dolorosa. Porque a mão enferruja aloucadamente. E enferruja a cabeça. Você tem que pensar visualmente, entrar no modo ilustração e exercitar a mão.

Rótulo
A Clarice Lispector um dia disse para a Lygia Fagundes Telles, quando ambas eram jovens e muito bonitas: “Lygia, não sorria nas entrevistas quando te fotografarem. Senão eles vão pensar que não somos sérias”. E até hoje a Lygia não sorri nas fotos e, de preferência, posa com óculos na mão, para mostrar que ela é seríssima. Eu não gosto de fazer o gênero lamuriento, porque é chato fazer isso. Pode ser um equívoco pessoal, mas é raríssimo que se fale em conto no Brasil e eu seja considerada uma contista. Sou uma autora infantojuvenil. Este ano, para a minha grande surpresa, fui convidada para um encontro de minicontistas na Argentina. Aí pensei comigo: “Como eles sabem que faço minicontos? No Brasil ninguém se dá conta disso”. Acho que isso é uma questão de preconceito, de feudo. O feudo poético, por exemplo, é muito fechado. Nunca alguém coloca a Adélia Prado entre os grandes poetas. A Adélia Prado é a Adélia Prado, como se ela não fosse uma poeta como os outros. Ela é uma figura à parte. Isso é preconceito. Os donos do feudo levantam as pontes elevadiças. E coincidentemente os donos do feudo são homens. Se não tivesse esse preconceito, não seria necessário ser feminista.

Contra as fadas
Uma vez o Affonso [Romano de Sant'Anna] me disse: “Para de dizer que você escreve contos de fadas. Diz que são contos fantásticos!”. Aí falei: “Não! É uma traição ao gênero, que é preciosíssimo, indispensável e milenar”. O conto de fadas é irmão da poesia — não em relação à forma, no sentido de que a transmissão foi feita oralmente, mas da densidade de conteúdo. Mas é claro que esse rótulo me relega ao chiqueirinho da literatura infantil, como coisa depreciativa. Mas sei que sem esse tipo de texto não teria literatura adulta, porque ninguém leria. E como seria um escritor adulto se ele não tivesse lido quando criança ou jovem? Mas os adultos não acham isso. Outro dia, numa dessas feiras, alguém perguntou: “Por que a nossa literatura, que é tão rica, tão abundante, com tantas personagens maravilhosas, ainda não ganhou um Nobel?”. E eu falei: “Porque ainda não é tão rica, não é tão grande, não é tão abundante e não tem tantas figuras maravilhosas”. Dito isso, a literatura infantil já ganhou três prêmios Andersen, mas isso ninguém considera que seja grande, maravilhoso e abundante.

Ser escritor
Acho que se tornou mais fácil ser escritor hoje do que era no passado, porque o mercado aumentou enormemente, já se exige a presença de autores nacionais nos catálogos das editoras e, dependendo da crise, quando o dólar fica muito caro, as editoras precisam de escritores nacionais porque os direitos dos autores estrangeiros ficam muito caros. E agora há uma possibilidade, para quem trabalha com texto curto, de fazer circular seu trabalho na internet. Isso não existia antigamente. A gente fazia tudo no mimeógrafo, distribuía nas praças. Mas uma praça não é a mesma coisa que a internet. A internet é uma praça bem mais ampla. Aumentou a dificuldade, talvez, para a literatura. Para o livro, não. Para o autor de livro, abriu o mercado. Para o autor de literatura, que precisa de um leitor mais arguto, mais bem formado, ficou mais difícil, porque a tendência da literatura é vender menos e as editoras querem vender muito.

Crítica na internet
Não viajo na internet. Não tenho Facebook nem Instagram. Fiz uma escolha, porque não tenho muitos anos pela frente. Tenho que usar o meu tempo intensamente. Mas vejo com certo receio a questão dos blogs supostamente críticos, dos blogs que aconselham leitura para os jovens. A crítica tem que ser exercida com ferramentas muito precisas. É uma responsabilidade enorme, você está trabalhando com o texto de outra pessoa. E eu não vejo armamento teórico e crítico nos blogueiros. São jovens que aconselham sobre aquilo que gostam. A literatura de diversão tem um lugar e tem um papel. Mas não é formadora. Não forma ninguém. Só diverte. Divertir não chega a motivar a reflexão, o autoconhecimento, o questionamento e o conhecimento do outro.

Marina Colasanti


Brasil
Moro ao lado do Pavão Pavãozinho, uma favela enorme no Rio de Janeiro. Vivo há 47 anos nesse lugar, passo todo dia em frente à favela e não me acostumo. Não me acostumarei nunca. Não considero que seja uma moradia digna e que um país tolere que pessoas morem dessa maneira. O país não deve tolerar. Eu não tolero. Então é uma posição pessoal. Hoje a gente vê o Brasil chorando. Não tem outra maneira de ver o Brasil. Eu saio, volto e é guerra de cinco dias na Rocinha. Saio e tem tiroteio, volto e tem tiroteio. Não se pode andar na rua. Em Brasília está todo mundo com a mão na mala de dinheiro, com o bolso cheio de dinheiro, a meia cheia de dinheiro. O que é isso? 

Ataques à arte
Isso sempre houve. Os ataques à arte acontecem por várias razões. Movidos pela igreja — movimentos religiosos costumam se exacerbar contra manifestações artísticas — e pela ignorância de uma parte preponderante da sociedade. Se a Marina Abramovic [artista performática nascida na Sérvia] pode ficar deitada numa mesa cheia de instrumentos ao seu redor, com as pessoas interagindo com esses objetos no corpo dela, porque o coreógrafo Wagner Schwartz não pode ficar sentado manuseando um bicho da Lygia Clark (daí o título, La Bête). Não sei por que uma coisa é arte e outra coisa não é. Em relação à exposição “Queermuseu”, acho que a posição do Santander foi equivocada, porque a instituição tem que saber o que está bancando, o que está financiando. O banco devia ter pensado antes. 

Conselho ao jovem escritor
Prepare-se para o fracasso. Porque o fracasso faz parte. Meu primeiro livro, que escrevi quando era cronista no Jornal do Brasil (um cargo que naquele momento era muito cobiçado), ficou 5 anos na gaveta. Então, primeiro prepare-se para o fracasso. Faça um projeto autoral. Escolha que tipo de escritor você quer ser. Se você quer ser autor de best-seller, tem que fazer algumas concessões. Autor de literatura dificilmente será best-seller na estrutura que a gente tem. E tem que ter uma determinação canina, porque a profissão se sacode o tempo inteiro e tenta ejetar a gente. Não é uma profissão acolhedora, e não é uma profissão que no início dê dinheiro. Depois pode até dar (é pouco provável, mas pode até dar). Então você vai ter que ter uma outra profissão que te sustente, e vai ter que tirar o tempo da boca da surucucu para escrever. Para isso você tem que ter uma determinação canina! Cravar os dentes na jugular da profissão e ficar ali. Conheço pessoas que têm cinco romances na gaveta e continuam escrevendo o sexto. A profissão é assim.

Carreira
Através de gêneros diferentes, estou fazendo um painel. A gente nunca sabe se este painel está completo porque sempre há o desejo de acrescentar mais alguma coisa. Mas depois de tantos anos de trabalho, 60 livros e 80 anos, acho que é um painel que me representa. Nunca fiz uma selfie, mas esse painel é minha selfie. E acho que ele me representa bem. Mas é claro, já quero voltar a escrever contos de fada. Há sempre o desejo de mais. Eu não estou morta, gente! Estar viva, para mim, é pensar, analisar, escrever. Estar viva é isso: trabalhar. Então alguma coisa acrescentarei, mas a obra está com tamanho razoável.