Poemas | Laura Santos

PRIMEIRO POEMA
a

Quando, envolta em penumbra,
a meditar me ponho,
na doce exaltação deste exaltado sonho
na esplêndida mudez desta noite sem lume,
principio a sentir em tudo o teu perfume.
Levemente ao redor do meu leito flutuas,
sinto em meios seios nus as tuas faces nuas,
e o teu vulto sutil, subjetivamente,
em insano prazer,
em volúpia fremente
como serpe voraz, se enrola no meu ser.

E quando eu volto, de repente,
da fria realidade,
compreendo que é a saudade
que me fez te sentir,
que me fez te gozar;
e, nesta noite fria,
eu encontro somente
a triste solidão de minha alma vazia.

VOLÚPIA

Quando desperta o sol, com seus brutais desejos,
beija o meu corpo inteiro em seu delírio rubro.
Na limpidez do céu, todo desfeito em beijos
um poema sensual de róseo amor descubro.

Sob este sonho ardente e de sutis harpejos,
a natureza toda é um marmóreo delubro.
Em espasmos de gozo o deus pagão sem pejos,
sorridente se impõe pelas manhãs de outubro.

Eu, toda fluido sou, e sou toda elastério,
na ondulação febril de profundo mistério
que vem na voz do vento e na luz do horizonte.

Som que cresce na chama aurífica da aurora,
que é da volúpia a voz veludínea e sonora,
e desliza em meu sangue, em coleios de fonte.

Laura Santos
(1919-198) nasceu em morreu em Curitiba. Fundadora da Academia José de Alencar, é autora de uma obra enxuta, constituída de Sangue tropical, Poemas da noite e Desejo, todos de 1953.