Poema | William Teca

curitiba você era toda lindinha
lascívia e recato no encanto caipira
de suas ruas molhadinhas

onde escorregam saltões de dondocas
que têm petit pavê
com os manobristas de carro
do palácio do batel

e os piás (barbudinhos) usam cachecules
e camisetas de brexó
mas não usam camisinhas
e se fazem de rudes sensuais na tv

ah curitiba cadê você na minha madrugada
me fazendo cafuné com sua geada
enquanto destruo o tapouere de batata palha
na barraquinha de cachorro quente da rui barbosa

curitiba (ah curitiba)
por que suas polaquinhas
perderam a classe
(viraram cosmopolitas multimídias)
e caminham descalças pela cruz machado
estragando a chapinha do salão marli
depois de voltarem infelizes de santa
pelo itinerário da rodovia dos minérios
(trás um jarro de tinto da casa
e uma overdose de polenta frita com frango)
pra procurar um taxi
(às duas da manhã aham)

curitiba (que segundo o millor já foi do mundo)
e agora abriga versões não musicadas de hendrix
na praça tiradentes
sem dentes e cheia de craques
(recitando a litania do silêncio
pelo largo coronel enéas)

curitiba me deu saudade
de você e de seu sotaque
e hoje à mercê desse sentimento ingrato
pegarei um ônibus lotado
e vou pra almirante tamandaré

a

William Teca é doutorando em Estudos Literários na Universidade Federal do Paraná (UFPR), com a tese “O tempo na poesia”. Autor do livro de poemas 40, que deve ser publicado em breve. Nasceu e vive em Curitiba (PR).