Poema | Wagner Schadeck
Vingança
Segue ébrio de ódio. Mas equilibra-se. Em ambas
as mãos há um garrafão. No meio-fio tropeça
e violentamente bate com a cabeça
numa placa de trânsito. Ao pisar muambas
espalhadas no chão, parece gingar sambas.
Não há ninguém que o avise, ninguém que o impeça
do próprio pé molhar, mijando-se sem pressa.
Prossegue. O passo é duro, embora as pernas bambas.
Opera uma manobra, oculto atrás dos postes.
Marchando em plena rua, investe contra as hostes.
Que pensa ele fazer, tão intrépido e indômito,
contra essa imensa grei? À turba, sem embargo,
avança resoluto, estufa o ventre largo,
lançando a todo mundo o nojo de seu vômito.
Os olhos são de bonecas,
os corpos como farrapos,
tripas desfeitas em trapos,
cabeças ficam carecas.
Línguas roxas, bocas secas,
como o veneno dos sapos,
dos rostos que eram tão guapos
vazavam visgo e melecas.
— Eram mortas tuas amigas?
Não sentiriam mais asco
de teu corpo obeso e flácido.
E a alimentando as lombrigas,
de um gole sorveste o frasco,
lavando as vísceras no ácido.
que na esperança por mais um milagre
recebem todos juntos bênçãos, brados,
espargidos à esponja com vinagre.
Mãos na cabeça, seus braços para o alto,
com súbita aparência de um assalto.
as mãos há um garrafão. No meio-fio tropeça
e violentamente bate com a cabeça
numa placa de trânsito. Ao pisar muambas
espalhadas no chão, parece gingar sambas.
Não há ninguém que o avise, ninguém que o impeça
do próprio pé molhar, mijando-se sem pressa.
Prossegue. O passo é duro, embora as pernas bambas.
Opera uma manobra, oculto atrás dos postes.
Marchando em plena rua, investe contra as hostes.
Que pensa ele fazer, tão intrépido e indômito,
contra essa imensa grei? À turba, sem embargo,
avança resoluto, estufa o ventre largo,
lançando a todo mundo o nojo de seu vômito.
Poção de beleza
Os olhos são de bonecas,
os corpos como farrapos,
tripas desfeitas em trapos,
cabeças ficam carecas.
Línguas roxas, bocas secas,
como o veneno dos sapos,
dos rostos que eram tão guapos
vazavam visgo e melecas.
— Eram mortas tuas amigas?
Não sentiriam mais asco
de teu corpo obeso e flácido.
E a alimentando as lombrigas,
de um gole sorveste o frasco,
lavando as vísceras no ácido.
Epifania
Há no culto fiéis de olhos fechadosque na esperança por mais um milagre
recebem todos juntos bênçãos, brados,
espargidos à esponja com vinagre.
Mãos na cabeça, seus braços para o alto,
com súbita aparência de um assalto.
Hora marcada
Preso ao tempo burocrata,
amarras outra gravata
no pescoço. E feito o laço,
empreendeste o último passo.
Na abrupta queda, suspenso,
oscila esse corpo imenso
e impreciso que recorda
um pêndulo preso à corda.
E este trabalho sem pausa
quem sabe fosse por causa
dos objetivos que obsedas.
É que o labor a que te alças
pôs no bolso de tuas calças
cerca de trinta e três moedas.
amarras outra gravata
no pescoço. E feito o laço,
empreendeste o último passo.
Na abrupta queda, suspenso,
oscila esse corpo imenso
e impreciso que recorda
um pêndulo preso à corda.
E este trabalho sem pausa
quem sabe fosse por causa
dos objetivos que obsedas.
É que o labor a que te alças
pôs no bolso de tuas calças
cerca de trinta e três moedas.
Wagner Schadeck nasceu em 1983, em Curitiba (PR), onde vive. É poeta e tradutor. Atualmente traduz e organiza um livro com as Odes completas de John Keats.
Ilustração: Erick Carjes
Ilustração: Erick Carjes