Poema | Tarso de Melo
lento cruzo a avenida
pensando no poema
que fala de uma mulher livre
e de um homem feito dardo
que ela atira para longe de si
a tarde morna já se despede
e tudo parece tecido
em fios de ausência e desespero
enquanto os mortos de hoje
juntam-se aos corpos de ontem
fingimos calma, somos fuga
e ninguém sabe bem em que esquina
a conversa falhou e deixou
essa lembrança sem margens
nos olhos, nos ossos, no vento
Ilustração: Rodrigo Visca
Tarso de Melo (1976) é poeta, professor e advogado. Doutor em Filosofia do Direito pela USP. Seus primeiros livros de poesia estão reunidos no volume Poemas 1999-2014 (2015). Lançou também Íntimo desabrigo (2017) e Dois mil e quatrocentos quilômetros, aqui, com Carlos Augusto Lima (2018)