Poema | Carlos Correia

Nu de vida
nu

Veste meu nu um destino,
têcito de fios ilusão.


É porque desde menino
tenho no frio da pele emoção.
Já morri de sabiás,
sem pena, nu de colibri,
despido de não ser ave, mas
suave demais, trajando sofri.

Tanto pelo exposto,
posto pelo não ser.
Sem um pano pra cobrir o gosto,
nu de chover.

Pois peguei o destino pra veste
e me guardei em têxtil colorida.
Existir: um traje cor celeste.
Mas eu? Sempre nu de vida.

 

diabo
DIABO DELICADO


Quando um demônio beija um colibri,
todo meu ardor voa com penas de anjo.

Minha paz é um demônio beijando um colibri,
um delicado diabo tocando banjo.

Quando leio a partitura dos gritos dos meus
demônios,
entendo todo esse enorme inferno de ser feliz.

A alegria toca violinos de fogo nos meus sonhos
e faz demônios beijarem meus colibris.


Carlos Correia Santos nasceu e mora há 38 anos em Belém (PA). É poeta, contista, dramaturgo e músico. É autor do livros O baile dos versos (poemas, 2000), Poeticário (poemas, 2005), Velas na tapera (romance, 2008), Senhora de todos os passos (romance, 2011) e A aventura da encantada que chorava letras (infantojuvenil, 2012).