Perfil do Leitor | Katiuscia Canoro

Devota de São Gabriel (Gárcia Márquez)

Títulos infantojuvenis, clássicos da dramaturgia e, principalmente, realismo mágico formam as bases do repertório literário da atriz e comediante


Omar Godoy
Divulgação
1


Acho que me mostrei demais falando dos meus livros preferidos”, diz, depois da entrevista, a atriz curitibana Katiuscia Canoro — conhecida no meio artístico justamente pela discrição. Avessa à badalação, a eterna Lady Kate do Zorral Total largou o emprego na Globo há dois anos e se instalou em Florianópolis, onde vive com a família e toca projetos mais pessoais. Como o programa Tudo tudo, que estreou em outubro no canal pago Multishow e destoa completamente do humor popular que fez sua fama. Com seis episódios totalmente produzidos em Curitiba, a atração surpreendeu a crítica pelo tom nonsense e referências cinematográficas. 

Além do cinema e do teatro (Katiuscia tem um extenso currículo de peças apresentadas nos palcos locais), a literatura também é uma das fontes de inspiração da artista. “Não tem nenhuma citação literária específica no Tudo tudo. Mas os livros se incorporam a tudo, são uma influência não só no meu trabalho como na minha vida”, afirma a atriz, que adquiriu o hábito da leitura ainda pequena, graças ao exemplo da mãe. “Lembro que cresci vendo ela deitada na cama, lendo aqueles romances com nome de mulher, Agatha Christie e livros de autoajuda e espiritualidade”, conta.

A literatura infantojuvenil foi tão marcante na formação da atriz que ela, ainda hoje, sabe citar suas primeiras leituras. Uma lista que vai de Maneco caneco chapéu de funil (Luís Camargo) a O bichinho da maçã (Ziraldo), passando por Meu pé de laranja lima (José Mauro de Vasconcelos), Contatos imediatos dos besouros astronautas (Assis Brasil) e todos os títulos da Coleção Vagalume (Editora Ática). “Esses livros me trazem até um cheiro especial”, diz Katiuscia, que mais tarde se interessou pelo universo de As mil e uma noites e pelas obras do norte-americano Richard Bach (Fernão Capelo Gaivota, Ilusões: As aventuras de um messias indeciso). 

Na fase seguinte de seu percurso como leitora, a artista se envolveu com temáticas místicas, espirituais, filosóficas, mitológicas, etc. O que talvez explique seu gosto posterior pelo realismo mágico, especialmente o praticado pelo argentino Julio Cortázar e o colombiano Gabriel García Márquez. “Esses são os meus autores favoritos. Amo a maneira como eles escrevem, mergulho naquelas histórias e consigo viver cada linha”, revela. “O jogo da amarelinha é de uma genialidade sem igual. E sobre o meu amado García Márquez, só posso dizer que sou devota. Ele é a minha leitura completa, com suspiros, insights, medos, alegrias, agonia, doçura, beleza, surpresa”, justifica.

Outro gênero presente em seu repertório é a dramaturgia, por motivos óbvios. “Fiz escola técnica de teatro, e isso me abriu os olhos para uma série de autores. Devorei Shakespeare, Brecht, Tchekov, Nelson Rodrigues, Ariano Suassuna... Essa lista não vai parar de crescer”, brinca a artista, que nasceu em Curitiba, foi criada no Rio de Janeiro e voltou ao Paraná aos 17 anos. Filha de um dos pioneiros da televisão no estado, Rafaelle Canoro (apresentador do programa de talentos Mini Chance), ela conta que desde pequena quis ser atriz. Pisou em um palco pela primeira vez aos 12 anos, na escola. Aos 14, já trabalhava em peças infantis. 

Casada com o ator croata Marin Nekic (seu parceiro na idealização e produção do Tudo tudo), Katiuscia tem um filho de 4 anos, Pepe. Ela confessa que, desde o nascimento do garoto, passou a ler bastante sobre maternidade e temas afins — mas ainda dedica algum tempo para autores contemporâneos. “Pra não dizer que eu não leio mais nada além de ‘manual de mãe’, tenho gostado muito dos livros do Paul Auster e do Antonio Prata”, diz a atriz, que em 2017 planeja lançar a segunda temporada de seu programa e engatilhar um longa para o cinema da personagem Lady Kate.