Mercado Editorial

Esvaziando as gavetas


Escritores paranaenses ou radicados no Estado prometem vários lançamentos em 2014


Guilherme Magalhães

No que diz respeito à literatura feita no Paraná, por paranaenses ou radicados no Estado, 2014 promete. De estreantes a autores consagrados, o ano literário que começa sinaliza que serão muitas as sessões de autógrafos. Tem de quase tudo e para todos os paladares: conto, romance, até prosa performática, infantil, juvenil e poesia. Se é da quantidade que vem a qualidade, os leitores e críticos fiquem atentos, e fortes: deve haver muita intensidade nessas páginas anunciadas.

O maringaense Oscar Nakasato, vencedor do Jabuti 2012 de Melhor Romance com Nihonjin, conta que o seu novo romance, ainda sem título, traz protagonistas nipo-brasileiros, a exemplo do que os leitores encontraram em sua obra de estreia. O enredo da próxima obra deve apresentar uma trama diferente da de Nihonjin. “Como são dois narradores-personagens, estou procurando uma dicção diferente para cada um, o que não é fácil”, explica.

Paulinha Kozloski
O curitibano Cezar Tridapalli vai publicar O beijo de Schiller pela editora Arte & Letra ainda no primeiro semestre — o romance venceu o prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2013 na categoria ficção. De acordo com o autor, a narrativa coloca em cena um escritor de relativo sucesso que, em meio à escrita de um romance, torna-se refém de um misterioso sequestrador que o desestabiliza de diferentes modos. “Há uma questão técnica do foco narrativo que, no meu primeiro romance, era em terceira pessoa. Agora, a narração será em primeira pessoa, com trechos em terceira pessoa do romance que o protagonista está escrevendo”, adianta Tridapalli. O escritor observa que os personagens do novo livro, comparados aos de Pequena biografia dos desejos, o seu primeiro romance, carregam em si as contradições próprias do ser humano. “Eles são carentes e sensíveis, ao mesmo tempo em que mostram egoísmo e cinismo, transitando por aspectos mais variados do nosso caráter”.

Finalista da última edição do prêmio Portugal Telecom com o romance A máquina de madeira, Miguel Sanches Neto, que vive em Ponta Grossa, finaliza um outro romance, que irá retratar o que teria acontecido com o Brasil caso Getúlio Vargas tivesse declarado apoio aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O livro foi a primeira ficção nacional encomendada pela editora carioca Intrínseca, em 2012. Sanches Neto lança ainda a coletânea de contos O móvel mundo, pela Companhia das Letras, e Poesia reunida, pela Ficções.

Estreias

A editora paulista Terracota promete disponibilizar nas prateleiras e gôndolas de livrarias, logo no início do ano, Sísifo desatento — livro finalista do Prêmio Sesc de Literatura em 2007, escrito pelo curitibano Homero Gomes. “Nessa reunião de contos, tenho a preocupação não apenas com a construção da linguagem, mas em contar histórias que transitam pelo nonsense, o fantástico, o suspense e a violência urbana”, afirma. Gomes conta que os primeiros contos do livro foram escritos há dez anos e reescritos desde então. Tempo do corpo, primeiro romance do escritor, também está previsto para 2014 e integra uma coleção de novos romancistas idealizada pelo editor Paulo Sandrini, da curitibana Kafka Edições. “Iniciei o livro em 2008, mas ele ainda não recebeu o ponto final, continua recebendo retoques,
Lopes
principalmente em relação ao enredo”, conta o autor, que escreve uma narrativa policial protagonizada por um detetive e ex-torturador do regime militar.

Outro autor que faz uma incursão pela literatura policial é Rodrigo Garcia Lopes, que no primeiro semestre de 2014 publica O trovador. Assim como Homero Gomes, o poeta londrinense vai fundir à narrativa de mistério reflexões históricas de sua cidade natal. Autor das coletâneas de poemas Visibilia e Nômada, entre outros livros, Garcia Lopes faz sua estreia na prosa. “Levei alguns anos para terminá-lo, com certeza bem mais do que eu imaginei quando comecei a escrevê-lo”, revela.

O trovador será publicado pela editora Record e é ambientado nas cidades de Londrina e Londres, em 1936. “Além da paixão mais recente pelo gênero [romance policial] e pela história de Londrina, o livro tem como pano de fundo a saga da colonização do Norte do Paraná, 450 páginas e uma trama complexa. Um pouco da pegada do romance-enigma britânico, mas também do noir americano, do romance de aventura”, explica Garcia Lopes, que critica o histórico desprezo da crítica literária brasileira à narrativa policial. Segundo o autor, o romance pretende levantar questões de identidade e moral, além de corrupção política, relações internacionais e colonialismo.

Eneas Gomez
Já o catarinense Paulo Venturelli, radicado em Curitiba desde 1974, adianta que seu próximo romance, Madrugada de farpas, abordará um relacionamento homossexual. “Trata da história de dois rapazes que estudam na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde cursam letras e se apaixonam. Um é negro, outro é loiro. Para dialogar com Bom crioulo, de Adolfo Caminha. Como nesta província esse tipo de relacionamento ainda é mal visto, os dois terão de enfrentar todas as vicissitudes do gênero para viver o que lhes interessa”, afirma Venturelli, adiantando que o romance está em fase de leitura por uma editora.

Confirmado mesmo está seu próximo título infantil, Pê e o vasto mundo, com lançamento no segundo semestre pela Positivo — editora que também publicou seu Visita à baleia, vencedor do prêmio de Melhor Livro Infantil de 2013, concedido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). “é um texto anfíbio, talvez um poema em prosa ou prosa em versos. É a captação de momentos, instantâneos de Pê, um menino que está crescendo e descobrindo certas facetas do mundo, suas impressões, e que tem sua consciência mostrada por meio de filigranas poéticas, sem jamais cair numa narrativa com começo, meio e fim”, conta o autor.


Na banca e no digital

Com uma obra extensa, Domingos Pellegrini deve ter um 2014 com vários lançamentos. A revolução dos cães, romance juvenil de ficção científica, será lançado pela editora Moderna, enquanto Perfeito de todo jeito, sobre obesidade juvenil, sai pela editora FTD. Já a Geração Editorial publica O rato e a sementinha, este para os pequenos.

Pellegrini


Mas Pellegrini guarda ainda dois lançamentos para este ano. O livro de memórias Lembranças de Leminski, que circulou pela internet em outubro passado com o título Passeando por Paulo Leminski, já tem editora contratada, que o autor prefere manter em sigilo. A obra será lançada assim que o Supremo Tribunal Federal decidir sobre a publicação de livros biográficos sem a necessidade  de autorização do biografado ou herdeiros. No ano passado, a poeta Alice Ruiz, viúva de Leminski, mostrou-se contrária à publicação da obra escrita por Pellegrini. Segundo ela, o livro do escritor londrinense traz uma visão negativa do poeta curitibano, morto em 1989.
Kraw Penas


O outro lançamento do autor de Terra vermelha é o livro de crônicas Amorumor, que integra uma coleção preparada pelo jornalista Rogério Mainardes para a Gazeta do Povo, visando a distribuição em bancas.

Cristovão Tezza também ataca em diversas frentes em 2014. Seu novo romance, O professor, será lançado em março pela Record — e em nada lembra o tom autobiográfico de O filho eterno, livro que lhe rendeu vários prêmios. Tezza prefere não adiantar muitos detalhes, mas parece otimista em relação à recepção do livro. “É um romance de fôlego, que me consumiu dois anos de trabalho e que considero meu melhor romance”, declara ele, que publicará ainda Uma questão moral, reunião de três contos inéditos em livro — a sair pela Arte & Letra em tiragem limitada de 200 exemplares e impressão artesanal.

Para os leitores já acostumados ao universo dos livros digitais, Tezza prepara uma coletânea de 100 textos críticos e ensaios, publicados na imprensa entre 1995 e 2013. Leituras: resenhas & ensaios terá apresentação do crítico Manuel da Costa Pinto e será lançado exclusivamente em e-book pela Amazon.


Romance-performance

O escritor e músico curitibano Carlos Machado lança, também, pela Arte & Letra, Passeios, livro de contos que ele considera uma continuação dos seus trabalhos em A voz do outro (2004) e Nós da província: diálogo com o carbono (2005), ambos publicados pela casa carioca 7Letras.

Machado
“Em A voz do outro, o personagem se confunde com o narrador e está em busca de uma voz para contar suas histórias, mas descobre que só conseguirá essa voz caso ouça muitas outras ao seu redor. No caso de Nós da província, o personagem é muito intimista dentro de sua cidade e se busca dentro de si e não na cidade”, explica Machado. Em seu novo livro, os personagens buscam suas próprias origens, em cenários que vão desde Londrina, São Paulo e Manaus, até Lisboa, Paris e Rio de Janeiro.

Um romance-performance é como o curitibano Alexandre França classifica Hidra, que sai ainda no primeiro semestre pelo selo Encrenca – Literatura de Invenção. “Não há um eixo narrativo ou uma conclusão lógica, mas uma performance. Textos poéticos são encontrados em diferentes locais por diferentes mulheres, textos que entram em curto circuito com o momento que elas estão vivendo”, adianta o autor, que tem programado para 2014 outro romance, este pela Arte & Letra.

O drama dos viciados em crack está no centro do enredo de Arquitetura do mofo. “É uma droga muito potente que, sem moralismo, corrói o indivíduo em pouquíssimo tempo. Penso que o livro acaba sendo uma reflexão acerca das relações tortuosas entre usuários e não-usuários”, conta França.

Parceiro de França em algumas composições musicais, o escritor e poeta Luiz Felipe Leprevost pretende dar continuidade à sua “trilogia da geada”, iniciada em 2011 com E se contorce igual a um dragãozinho ferido. Previsto para o primeiro semestre do ano, Dias nublados é uma novela que, inicialmente, integraria a Coleção Osório da Arte & Letra, com histórias profundamente ligadas à espaços da cidade. “O personagem principal mora na região central de Curitiba, mas não é um livro muito focado no centro, e sim num deslocamento cíclico e ininterrupto”, conta Leprevost, que comenta ainda sobre a linguagem do livro, menos experimental que a observada em sua última obra, Salvar os pássaros, publicada pelo selo Encrenca. “Não é uma linguagem tão aberta, entortada e experimental, mas também não espero que seja totalmente aristotélica no sentido de começo, meio e fim. Cada livro impõe a sua forma”, finaliza.

O curitibano Guido Viaro, autor de uma dezena de livros, como Confissões da condessa Beatriz de Dia, procura editoras para publicar seus próximos romances. A sombra oca narra a trajetória de um homem de meia idade que embarca numa viagem ao redor do mundo e se perde nos confins da Ásia, enquanto Shopping Mall — O triunfo do consumo traz elementos de ficção científica e é ambientado no ano de 2166.

O escritor Marcio Renato dos Santos prefere manter o suspense e não revela o título de sua nova coletânea de contos, que sai em março pela Travessa dos Editores. No mesmo mês, o autor lança o Dicionário amoroso de Curitiba, livro que integra um projeto da editora baiana Casarão do Verbo, que convidou escritores das 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 para escreverem um dicionário ficcional de suas metrópoles. Autores como João Carrascoza (São Paulo) e Altair Martins (Porto Alegre) também fazem parte da coleção.

Publicando pelo menos um livro por ano na última década, Dalton Trevisan retorna com O beijo na nuca, pela Record. Outro livro de Trevisan está previsto pela Arte & Letra, no esquema artesanal de tiragem limitada. Os editores, porém, são cautelosos e preferem divulgar poucos detalhes da obra, ao modo de Dalton.