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Manoel Carlos Karam
Catarinense que construiu sua carreira como escritor em Curitiba, o experimental Ma - noel Carlos Karam (1947-2007) é ou - tra prata da casa sempre celebrada pelo jornal. Foi assunto de capa logo no primeiro ano de circulação e se - guiu sendo lembrado nos anos se - guintes — seja por meio da publica - ção de seus contos ou como primeiro autor homenageado da Festa Literária da Biblioteca Pública do Paraná (Fli - bi), em 2017.
“A Ilha António chamava-se assim em homenagem ao seu descobridor, mas mudou para Ilha da Sereia porque uma lenda ganhou mais força que o descobridor. O nome seguinte foi Ilha dos Papagaios Vadios, dado por um governador que, segundo os cronistas, gostava de gracejos, pois a ilha não tinha papagaios. A Ilha dos Papagaios Vadios virou Ilha das Bateiras (na voz do povo, Ilha das Bateras), homenagem às embarcações dos pescadores que viviam nos rios de pouca água e não se sabe se de muito ou pouco peixe, mas pescadores que provavelmente tinham as simpatias do governador da época — a história de que um dos pescadores de bateira chegou a governador é chamada de lenda pela maioria dos cronistas. O nome passou, por influência religiosa, para Ilha de Nossa Senhora das Fontes Murmurantes ou Ilha de Nossa Senhora dos Ventos Uivantes — os cronistas divergiam, dois deles chegaram a se bater em duelo, que terminou empatado, dois mortos.”
Trecho do conto “Ilha de Nossa Senhora Fulana de Tal e Outros Nomes”, de Manoel Carlos Karam, que integra o livro, então inédito, Um Milhão de Velas Apagadas (edição 45, abril de 2015)Glória Flügel
“O fato indiscutível é que, não importa o livro, os personagens de Karam — os com cara e os sem cara bem definidas — são todos muito parecidos. Na verdade, são idênticos. A mesma voz, a mesma verve, a mesma visão amarga de mundo. Valêncio Xavier acertou na mosca quando avisou que Karam estava escrevendo o mesmo livro indefinidamente. Não só todos os personagens formam uma entidade única, uma superconsciência, como o mesmo jogobrincadeira (expressão de Valêncio) vai sendo disputado livro após livro, com pequenos intervalos de uma encadernação para outra.”