A História da Revolução - Parte 2

A História da Revolução - Parte 2


Conto: André Sant’Anna

Ilustrações: Theo Szczepanski

Na infância, depois de Maio de 68, quando o sonho estava começando a acabar, George Harrison tocava balalaica acompanhando Magical Mistery Tour e comandava exércitos e os exércitos do George eram os mais poderosos, mais modernos, mais tecnológicos, mais coloridos, do prédio número 145 da Rua Congonhas, em Belo Horizonte. O George também era o único general da Rua Congonhas a ter Lego e essas tropas do George, então, tinham quartéis incríveis e bases de lançamento para mísseis, naves espaciais, o George tinha uma réplica do capacete do Neil Armstrong e soldados da Guerra Civil Americana, o Rin-Tin-Tin, essas porra toda, e era meio louco isso, porque os pais do George estavam ficando meio hippies e ficavam lá no apartamento da Rua Congonhas, com uns amigos estranhos cheios de cabelo, ouvindo uns discos sensacionais — o Abbey road dos Beatles, o Dark side of the moon do Pink Floyd, o Bitches brew do Miles Davis, o Milagre dos peixes do Milton Nascimento, que era um disco com as letras todas censuradas, com o Som Imaginário, com o Fredera tocando guitarra e o Jóia e o Qualquer coisa do Caetano Veloso e aquele do Gilberto Gil que tinha o Rouxinol do Mautner — e o pai do George, nas férias escolares, quando a mãe do George Harrison, o George Harrison e o Paul MacCartney iam para a casa do avô mameluco, na praia, em Ubatuba, ele, o pai do George, escondia uns comunistas procurados pelos revolucionários (rá rá rá) no apartamento da Rua Congonhas e vivia falando mal do Presidente Médici, na frente da televisão, na hora do Jornal Nacional, na hora do programa do Flávio Cavalcanti e dizia para o George não falar na escola que eles, meu pai e minha mãe, eram de esquerda e que escondiam uns inimigos da pátria, da família, de Deus essas porra, em casa, e todo mundo na escola do George colecionava uns álbuns de figurinhas com uns nomes assim: Brasil Pra Frente; Brasil Eu te Amo; com figurinhas do Sujismundo, do Presidente Médici, daquele golaço do Carlos Alberto, com aquele passe do Pelé, último gol da final contra a Itália, e o George queria ser que nem os amigos dele, do George, e também colecionar aquelas figurinhas — Brasil Gigante, essas porra — e eles, o pai e a mãe do George, não achavam legal esses álbuns de figurinha e pareciam não gostar muito de gente que tinha dinheiro, e tinha uns livros orientais lá em casa, uns livros do Carlos Castaneda, uns livros do Jung que diziam que Deus existe e que ele, o Jung, conhecia Deus, e a mãe do George começou a comer arroz integral e queria se desapegar dos bens materiais e entre toda a turma do Colégio Alcinda Fernandes, que não tinha sequer unzinho representante do proletariado ou do Movimento Hippie, o George era o único que não tinha uma TV a cores em casa e o Cid Moreira era um jovem galã em preto e branco, apresentando o Jornal Nacional com aquela música do Pink Floyd e tinha o programa do Amaral Neto e o meu pai e a minha mãe e os amigos deles detestavam o Amaral Neto e George também não gostava porque o programa do Amaral Neto vinha antes de um programa que eu gostava, não me lembro bem qual era, mas acho que eram os gols do domingo, uma coisa assim, e demorava para acabar, enquanto, ao mesmo tempo, o George Harrison tinha esses brinquedos incríveis internacionais, espingardas de raio laser, a máscara do Batman, a coleção completa de bonecos dos Vingadores, já que os meus avôs, que nasceram em regiões menos desenvolvidas do Brasil, eram, então, na época da minha infância, homens ricos, desses que trazem as mais modernas armas de guerra do exterior para o neto tocador de balalaica, general de exércitos e futuro Glauber Rocha. Um conflito na cabeça do George Harrison entre ser burguês e dono de altos exércitos e da NASA, ou ser um hippie comunista que era uma coisa que começou a me parecer bem legal, ser ou não ser, essas porra.

Theo

E o Brasil era assim: um lugar onde aves de arribação chegavam no Rio de Janeiro, em São Paulo, e até mesmo em Belo Horizonte, com umas notas de dinheiro costuradas no bolso do paletó, meio mamelucos como meu avô materno, ou meio cafusos como meu avô paterno e se formavam em Engenharia para asfaltar Belo Horizonte, ou em Direito/Ciências Econômicas para ajudar a organizar as finanças de governos democráticos e ditaduras nojentas, e construíam carreiras sólidas e se tornavam homens de posses e tinham filhos de pais ricos que se tornavam hippies comunistas desapegados dos bens materiais e netos meio divididos entre a fartura burguesa de réplicas perfeitas das mais modernas armas de guerra dos exércitos americano e o estilo meio hippie de ser — aquelas festas à noite, aqueles discos espetaculares na vitrola e festivais de inverno em Ouro Preto, aqueles passeios de jipe amarelo pelas cachoeiras perto de Ouro Preto, aquelas namoradas dos tios, todas lourinhas com flores no cabelo tomando banho peladas nas cachoeiras e umas figuras muito estranhas e legais que apareciam em Ouro Preto, como o maestro Rogério Duprat, o Julian Beck e a Judith Malina, do Living Theater, e o pai do George avisando para o George não falar na escola nada dessas coisas que o George via no Festival de Inverno de Ouro Preto, em 1973, a casa que os pais do George alugaram em Ouro Preto cheia de hippies maconheiros e comunistas e batidas policiais, nos bares, aqueles caras que apareciam nos bares, à noite, com uns pastores alemães cheirando todo mundo e sempre chegavam notícias de alguém que tinha sido preso e de gente que tinha sido morta.

O George ainda não sabia que os militares brasileiros apagavam cigarros na bunda de crianças na frente dos pais comunistas e era colega do neto do Magalhães Pinto, o Carlos Alberto Magalhães Pinto, na escola, em Belo Horizonte. E por mais que o George tivesse tropas imbatíveis entre seus amiguinhos da Rua Congonhas, essas tropas não davam nem para o cheiro quando se tratava dos exércitos interestelares do Carlos Alberto Magalhães Pinto, que eram financiados pelo Banco Nacional, o banco que patrocinava o Jornal Nacional com o Cid Moreira colorido na casa dos Magalhães Pinto e preto e branco na casa dos pais hippies comunistas do George, que também não tinham carro e nem telefone e nem presunto no lanche da tarde e Coca-Cola só no domingo. O que havia na casa do George e do Vô Harrison eram muitos livros e o George era o único entre seus colegas do Alcinda Fernandes que lia livros além dos livros obrigatórios da escola. E o Vô Harrison, um dia, deu de presente para o George um livro que se chamava Enterre meu coração na curva do rio, que contava a história de como os brancos americanos foderam com os pele vermelhas dos Estados Unidos e o George ficou fã do maior de todos os chefes Sioux, o Nuvem Vermelha, e o George, que se sentia uma criatura inferior ao Carlos Alberto Magalhães Pinto e aos coleguinhas burgueses do Alcinda Fernandes e ao primo também neto do Vô Mameluco, que era louro e tinha viajado para a Disney e a geladeira da casa dele tinha presunto e Coca-Cola, começou a ficar revoltado contra a injustiça social que ele, eu, sofria e resolveu mandar a tradicional família mineira para o diabo que a carregasse e o capitalismo, que o George ainda não sabia o que era, para aquele lugar, e se tornou um pequenino hippie comunista e os meus exércitos passaram a ser comunistas e, do pessoal do forte apache que o meu avô do governo trouxe dos Estados Unidos, o Rin-Tin-Tin essas porra, eu elegi o índio que tinha o maior cocar de todos para ser o alterego do George Harrison, e o George Harrison foi durante muito tempo o Nuvem Vermelha comunista, já que vermelho era cor de comunista e Nuvem Vermelha promovia altas sessões de tortura sobre os Casacos Azuis, aqueles americanos capitalistas filhos da puta matadores de Sioux vermelhos comunistas.

E um dia os pais do Georgezinho se separaram e o George Harrison e o Paul MacCartney e a mãe deles, descendente de índios amazonenses, ou cearenses, uma dessas porra, foram morar numa cidade de praia bem pequena, bem filha da puta, no Litoral Norte do Estado de São Paulo. E nessa cidade filha da puta, linda — Ubatuba, em 1976, era um negócio espetacular — não tinha um filho da puta que soubesse o que era comunista, direita, ditadura militar, Maio de 68, Primavera de Praga, Carlos Lacerda, essas porra. E o Georgezinho era um viadinho filho da puta que mal sabia amarrar o sapato e teve que lamber a ferida do capeta para aprender a ser homem, ainda mais tendo uma mãe desquitada, numa casa infestada de cabeludos de todas as espécies, uns que nunca vai dar pra esquecer, como um argentino doidão, com uns óculos fundo de garrafa que jogava o I Ching e que tinha sido preso pela ditadura argentina e estava fugindo com a mulher, que jogava Tarô e enxergava o Vazio e o argentino doidão até conseguiu fazer com que o Georgezinho fosse macrobiótico por três dias, e os argentinos tinham uns dois filhos pequenos que cagavam pela casa toda e o cara jogava futebol bem pra cacete e o George tirava a maior onda levando aquele doidão de óculos fundo de garrafa, maconheiro, que comia a bola, ao campinho em frente à casa do Vô Mameluco e um outro hippie que fazia tecelagem de macramê e dava uns gritinhos bichas pelas ruas e usava saia e ia à praia de tanga fio dental, com a bunda toda peluda de fora e a polícia queria prender o cara por atentado ao pudor e neguinho sacaneava o pobre do Georgezinho na escola chamando o George Harrison de Candinho, que era o nome do homossexual hippie que, naquela época, sendo sacaneado na escola pelos filhos da puta todos, o Georgezinho detestava, mas hoje eu tenho certeza de que fui um Georgezinho privilegiado por ter tido uma babá, um tio tão doido como aquela bicha louca, naquela época em que o General Geisel estava começando a acabar com esse negócio de qualquer filho da puta sádico poder enfiar objetos cortantes nas vaginas das mulheres alegando que elas eram comunistas e com esse pessoal sádico, tarado, gente com Índice de Desenvolvimento Humano inferior ao de qualquer verme, que ficava suicidando as pessoas por aí. E se falava muito disso na casa do George, em Ubatuba, nos fins de semana, quando a casa ficava cheia de hippies de esquerda, uns caras do Chile, músicos, de esquerda, fugindo da ditadura chilena e cada um que me aparecia. E o delegado e o juiz, a policia, o Centro Cívico Duque de Caxias essas porra, de uma cidade pequena filha da puta como aquela, eram umas instituições tão ridículas, que uma peça de fantoches, para a escola, que o George Harrison escreveu, fazendo uma paródia totalmente inocente, infantil, bobinha, dos programas eleitorais da televisão para as eleições de 1978 — parlamentares apenas — onde George Harrison fazia trocadilhos bobinhos com o nome dos candidatos, o Coronel Erasmo Dias era o Coronel Serás Um Dia, péssimo, foi proibida, censurada, tinha até camburão na porta da escola, e os três socialistas que havia naquela cidade filha da puta sempre sorriam e faziam o sinal de positivo, quando passavam pelo Glauberzinho, na praia maravilhosa, que hoje, 50 anos depois da revolução (rá rá rá), está se transformando numa bacia de cocô, democraticamente, com toda a liberdade para se fazer merda quando e onde se quiser, embora seja proibido fazer topless, proibição esta que prova irrefutavelmente que, no Brasil, em 2014, as mulheres ainda não têm os mesmos direitos que os homens, embora seja obrigatório aos homens, em vários prédios públicos, o uso de uma tira de pano amarrada no pescoço, já que sem uma tira de pano amarrado no pescoço um homem fica menos respeitável e os responsáveis em criar proibições e obrigatoriedades são sempre, obrigatoriamente, pessoas inteligentes.

Mas o Colégio São Vicente é que era maneiro/só tinha maluco, comunista e maconheiro. E o George Harrison foi morar no Rio de Janeiro mais ou menos perto daquele Verão da Abertura, 1979/1980, e os colegas dele, do George, no São Vicente, eram também filhos de comunistas hippies e eles iam à praia no Posto 9 e ficavam lá fumando uns baseados, pegando uns jacarés e o Glauber Rocha ficava assistindo aquilo tudo em volta, as aberturas, o Gabeira de tanga rosa, que nem o Candinho em Ubatuba só que no Rio a polícia deixava e o Glauber Rocha olhava para o Glauber Rocha fazendo uns discursos sensacionais e o Glauberzinho Rochinha de orelha aberta ouvindo aqueles discursos lúcidos loucos, dizendo que a loucura dele, Glauber Rocha, era a consciência dele, Paulo Martins, e tinha o Caetano Veloso meio sóbrio do lado da Dedé meio doidona e o Macalé empinando pipa e a Jaqueline e a Isabel, do vôlei, jogando frescobol, a Isabel grávida jogando frescobol, lindona. E a Regina Casé, do Asdrúbal, no Teatro Ipanema, falando aquele poema do Chacal, Camaleoa, lindona. E na nossa turma do São Vicente, do Posto 9, tinha a Mariana, que é neta do Vinícius de Morais, que tinha uns 13 anos e fazia topless, lindona, e na visão de mundo do Glauber Rocha que o George Harrison estava desenvolvendo, uma espécie de ideologia, o Macalé empinando pipa, a Mariana, de 13 anos, fazendo topless, o Gabeira de tanga rosa e a Isabel grávida lindona eram peças importantes de um Brasil que o George Harrison achava que ia começar daqui a pouco e que ia ser o Brasil do Glauber Rocha, do Darcy Ribeiro, do Jorge Mautner. Aquele conceito do Glauber Rocha: “A revolução é uma eztetyka”. E o Gabeira falava coisas assim, em “O que é isso companheiro?”, de novas eztetykas para uma nova esquerda, mas, sabe como é, o inconsciente coletivo das esquerdas já logo taxou aquilo de viadagem, de maconhice, de hippismo e, há bem pouco tempo, as esquerdas cariocas votaram no Eduardo Paes, alegando que o Gabeira era muito Zona Sul. E a Isabel grávida lindona jogando frescobol e aquela luz do meio dia que o Glauber usou o tempo todo em A idade da terra, “as luzes misteriosas dos tropykos” e ainda era ditadura e ainda havia aquelas coisas meio ridículas, meio medievais, o Dom Eugênio Sales, a Igreja, em plena perestroyka brasileira, exigindo e conseguindo a proibição do filme do Godard, no qual Maria, mãe de Deus, jogava basquete e era linda e era um filme lindo, um filme extremamente cristão, muito mais cristão do que o Dom Eugênio Sales e do que a censura religiosa e passava também um programa na televisão que tinha o Glauber Rocha, o Darcy Ribeiro, o Augusto Boal, o Brizola e o Lula, de boné, falando cuspindo, barbudão, com aquela voz, dando entrevista para o Sargentelli e os padres que dirigiam o Colégio São Vicente eram ligados à Teologia da Libertação, ligados com aquele bispo de Nova Iguaçu, que aqueles mesmos sádicos asquerosos que queimavam cigarros na bunda de crianças na frente dos pais comunistas e enfiavam coisas na vagina das mulheres comunistas torturaram, barbarizaram e mataram, aqueles caras revolucionários (rá rá rá). E as aberturas seguiam e as revistas de mulher pelada passaram a mostrar os pelos pubianos das mulheres, da Xuxa, e houve a primeira eleição para governador que o George Harrison viu na vida e a Sandra Cavalcanti, que era candidata do trabalhismo de direita, do PTB, desceu a Rua Cosme Velho em cima de um carro, fazendo comício, e os maconheiros comunistas amigos do George tacaram ovos em cima da Sandra Cavalcanti e foi um vandalismo delicioso e o pessoal todo era muito livre e todo mundo gostava de ir para escola e escrever o jornal e formar umas bandas e salvar os índios e salvar a Amazônia e salvar as baleias e falar de política e fazer faixas e sair na rua com as faixas e o Brizola ganhou a eleição e virou governador do Rio de Janeiro e um monte de gente saiu pelada no desfile das escolas de samba, na televisão, e um tempo antes da eleição do Brizola, dois militares inteligentes, ligados a alguma linha heavy hard metal inteligente das Forças Armadas tentaram explodir o Riocentro com um monte de comunistas e maconheiros e hippies e o Chico Buarque e o Milton Nascimento dentro, mas o cara inteligente dentro do carro acabou explodindo a própria genitália, bem feito, e outros desses defensores da revolução (rá rá rá) e de Deus, explodiram umas bancas de jornal e explodiram uma secretária da OAB, umas porra dessas. E o General Figueiredo não precisou prender nem arrebentar ninguém para que milhões de pessoas fossem naqueles comícios pedindo eleições diretas para Presidente da República e alguns anos antes, em 1981, morreu o Glauber Rocha e eu fui ao velório e ao enterro do Glauber Rocha e esses dois eventos políticos foram os eventos políticos mais importantes da minha vida e, outro dia, eu estava vendo o discurso do Darcy Ribeiro no enterro do Glauber Rocha, no YouTube, e deu um desespero no George Harrison, aquelas coisas que o Darcy Ribeiro estava dizendo, porque se o Glauber Rocha não tivesse morrido de desgosto na época das aberturas, ele morreria de um desgosto muito maior agora, nesta época cuja eztetyka é a da caretice triunfante, a da classe baixa alta comendo batata frita e a daquelas mulheres meio ricas, meio vagabas, com aquelas caras esticadas horripilantes. E um dia, sob o comando do Papa João Paulo II, a direita do Vaticano, essa que ajudou o Ocidente Capitalista a anexar os países da Cortina de Ferro e que promoveu altas parada financeiras estranhas e a proteção de padres pedófilos, essas porra, deu ordem, acho que foi em 1983, para que os padres libertários do São Vicente demitissem os professores comunistas e eliminassem os alunos maconheiros.

No final da História da Revolução, não houve a eleição direta, o colégio eleitoral do Congresso Nacional Brasileiro elegeu um presidente de centro-esquerda que morreu antes de tomar posse e deixou em seu lugar um presidente de centro-direita, que apoia todos os governos de direita, de centro ou de esquerda, desde a revolução (rá rá rá), um Centrão que não larga o poder nem a pau, e a Revolução de 64 acabou sem revolução nenhuma e o primeiro presidente eleito democraticamente depois da Ditadura Militar foi uma figura absolutamente ridícula, com um discurso altamente fajuto, cínico, de eztetyka mefistofélica e o Brasil do Glauber Rocha e do Darcy Ribeiro e o amálgama brasileiro que o Mautner diz haver, essas porra, não têm a menor possibilidade, não vai rolar, Glauber, e o Índice de Desenvolvimento Humano é baixíssimo e, de vez em quando, o George ouve o papo de algum babaca filho da puta, no ônibus para cidadãos com baixo Índice de Desenvolvimento Humano ou na mesa do restaurante por quilo, na mesa ao lado, um desses babacas que trabalham numa firma filha da puta, dizendo que bom era na época da ditadura, ou que o que atrapalha é essas porra de direitos humanos que vêm aqui é pra soltar os bandido, porque bandido tem é que dar porrada, tem é que ir pra pena de morte essas porra.


André Sant’Anna nasceu em Belo Horizonte em 1964 e morou no Rio de Janeiro, onde tocou no grupo Tao e Qual. É autor, entre outros, dos livros Amor (1998) e Sexo (1999). “A História da Revolução”, conto escrito por encomenda pelo Cândido, será incluído no livro O Brasil é bom, a ser publicado em abril deste ano pela Companhia das Letras. O autor vive em São Paulo (SP).