Especial Capa: Febre biográfica
Daniel Zanella
Em 2008, a escritora Kathryn Hughes escreveu artigo no jornal inglês The Guardian decretando a “morte da biografia”. Hughes fala sobre o mercado editorial de língua inglesa e certamente não conhece o cenário brasileiro. Por aqui vivemos uma espécie de “febre biográfica”, expressão cunhada pelo historiador François Dosse, autor do seminal O desafio biográfico, para explicar o fenômeno que toma conta das livrarias e listas de mais vendidos.
Nos últimos vinte anos, as chamadas narrativas reais — termo usado para designar biografias, perfis e livros-reportagem — ganharam espaço em nosso mercado editorial. Desde então, o leitor brasileiro tem ao alcance das mãos uma gama enorme de livros sobre personagens das mais variadas áreas, da política às artes.
Além de nomes consagrados como Ruy Castro e Fernando Morais, outros autores nacionais, como Nelson Motta e Lira Netto têm produzido boas biografias. O mesmo acontece com os livros reportagem. Além das obras escritas por Caco Barcellos (Abusado e Rota 66), best-sellers como 1808, de Laurentino Gomes, e Meu nome não é Johnny, do jornalista Guilherme Fiúza, ganham cada vez mais espaço em nossas prateleiras, entrando com facilidade nas listas de mais vendidos. Aos veteranos, juntam-se jovens jornalistas que investem no livro-reportagem, como Vanessa Bárbara, que ganhou o Prêmio Jabuti 2009 com O livro amarelo do terminal, uma extensa reportagem sobre o Terminal Tietê, em São Paulo.
Historicamente, nossas biografias sempre seguiram o padrão clássico imposto pela escola anglo-saxã, mas nos últimos anos tem se verificado uma forte influência do chamado jornalismo literário americano no gênero.
Fernando Morais, autor de sucessos editoriais, como Olga e Chatô — o rei do Brasil, não se sente muito à vontade com a expressão “jornalis mo literário”, mas considera que todos os seus livros são, sim, grandes reportagens escritas com precisão literária.
“Se há algo de que me orgulho, é que todos os meus livros poderiam ser publicados em jornais ou revistas, de modo seriado”, diz Morais, que recentemente lançou Os últimos soldados da Guerra Fria, sobre um grupo de agentes cubanos infiltrados em organizações de extrema direita nos Estados Unidos. O livro saiu mais de três décadas após Morais ter escrito A Ilha, uma grande reportagem sobre Cuba que também fez muito sucesso.
O sucesso do gênero, embasado na pesquisa jornalística e no recorte mais profundo da realidade, de certa forma indica uma tendência do leitor brasileiro por histórias ligadas diretamente ao “real”.
Ruy Castro é outra referência no gênero. Apaixonado pelo Rio de Janeiro e seus personagens, o jornalista escreveu biografias sobre Nelson Rodrigues (O Anjo Pornográfico), Carmen Miranda (Carmen) e Garrincha (Estrela Solitária). Sozinho, o livro Estrela solitária, segundo a editora Companhia das Letras, passou a casa dos 80 mil exemplares vendidos.
Música
A música é outro tema que se tornou um filão rentável no mercado de biografias. Artistas e obras foram resgatados por pesquisadores e escritores, ajudando a contar a história de nosso cancioneiro. Só a Editora 34, em sua coleção “Ouvido Musical”, publicou mais de 25 títulos sobre artístas como Luíz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.
Ícones da MPB, como Maysa, Wilson Simonal, Chico Buarque e Caetano Veloso também foram alvo de biografias. Um nicho que tem se mostrado rentável. Só Vale Tudo – O som e a fúria de Tim Maia, escrita por Nelson Motta em 2007, vendeu mais de 130 mil exemplares.
Da temporada de lançamentos, um dos estudos biográficos mais aguardados de 2012 é a trilogia sobre Getúlio Vargas, prevista para ser lançada em maio pela Companhia das Letras, redigida pelo jornalista e escritor Lira Neto, retrato que promete trazer um Getúlio polifônico e controverso.
A contratação de escritores consagrados para escrever sobre a trajetória de políticos e empresários tem sido outra prática recorrente no mercado de biografias. O escritor Ignácio de Loyola Brandão já escreve vários livros institucionais, entre eles a biografia de Olavo Setubal, fundador do Banco Itaú, e um perfil sobre a ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
Sérgio Vilas-Boas, um dos maiores teóricos do gênero, lançou recentemente Doutor Desafio, trajetória do empreendedor Luiz Alberto Garcia, biografia com pegada de perfil, encomendada pelo Centro de Memória Algar, ligado ao empresário.
Em 2008, a escritora Kathryn Hughes escreveu artigo no jornal inglês The Guardian decretando a “morte da biografia”. Hughes fala sobre o mercado editorial de língua inglesa e certamente não conhece o cenário brasileiro. Por aqui vivemos uma espécie de “febre biográfica”, expressão cunhada pelo historiador François Dosse, autor do seminal O desafio biográfico, para explicar o fenômeno que toma conta das livrarias e listas de mais vendidos.
Nos últimos vinte anos, as chamadas narrativas reais — termo usado para designar biografias, perfis e livros-reportagem — ganharam espaço em nosso mercado editorial. Desde então, o leitor brasileiro tem ao alcance das mãos uma gama enorme de livros sobre personagens das mais variadas áreas, da política às artes.
Além de nomes consagrados como Ruy Castro e Fernando Morais, outros autores nacionais, como Nelson Motta e Lira Netto têm produzido boas biografias. O mesmo acontece com os livros reportagem. Além das obras escritas por Caco Barcellos (Abusado e Rota 66), best-sellers como 1808, de Laurentino Gomes, e Meu nome não é Johnny, do jornalista Guilherme Fiúza, ganham cada vez mais espaço em nossas prateleiras, entrando com facilidade nas listas de mais vendidos. Aos veteranos, juntam-se jovens jornalistas que investem no livro-reportagem, como Vanessa Bárbara, que ganhou o Prêmio Jabuti 2009 com O livro amarelo do terminal, uma extensa reportagem sobre o Terminal Tietê, em São Paulo.
Historicamente, nossas biografias sempre seguiram o padrão clássico imposto pela escola anglo-saxã, mas nos últimos anos tem se verificado uma forte influência do chamado jornalismo literário americano no gênero.
Fernando Morais, autor de sucessos editoriais, como Olga e Chatô — o rei do Brasil, não se sente muito à vontade com a expressão “jornalis mo literário”, mas considera que todos os seus livros são, sim, grandes reportagens escritas com precisão literária.
“Se há algo de que me orgulho, é que todos os meus livros poderiam ser publicados em jornais ou revistas, de modo seriado”, diz Morais, que recentemente lançou Os últimos soldados da Guerra Fria, sobre um grupo de agentes cubanos infiltrados em organizações de extrema direita nos Estados Unidos. O livro saiu mais de três décadas após Morais ter escrito A Ilha, uma grande reportagem sobre Cuba que também fez muito sucesso.
O sucesso do gênero, embasado na pesquisa jornalística e no recorte mais profundo da realidade, de certa forma indica uma tendência do leitor brasileiro por histórias ligadas diretamente ao “real”.
Ruy Castro é outra referência no gênero. Apaixonado pelo Rio de Janeiro e seus personagens, o jornalista escreveu biografias sobre Nelson Rodrigues (O Anjo Pornográfico), Carmen Miranda (Carmen) e Garrincha (Estrela Solitária). Sozinho, o livro Estrela solitária, segundo a editora Companhia das Letras, passou a casa dos 80 mil exemplares vendidos.
Música
A música é outro tema que se tornou um filão rentável no mercado de biografias. Artistas e obras foram resgatados por pesquisadores e escritores, ajudando a contar a história de nosso cancioneiro. Só a Editora 34, em sua coleção “Ouvido Musical”, publicou mais de 25 títulos sobre artístas como Luíz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.
Ícones da MPB, como Maysa, Wilson Simonal, Chico Buarque e Caetano Veloso também foram alvo de biografias. Um nicho que tem se mostrado rentável. Só Vale Tudo – O som e a fúria de Tim Maia, escrita por Nelson Motta em 2007, vendeu mais de 130 mil exemplares.
Da temporada de lançamentos, um dos estudos biográficos mais aguardados de 2012 é a trilogia sobre Getúlio Vargas, prevista para ser lançada em maio pela Companhia das Letras, redigida pelo jornalista e escritor Lira Neto, retrato que promete trazer um Getúlio polifônico e controverso.
A contratação de escritores consagrados para escrever sobre a trajetória de políticos e empresários tem sido outra prática recorrente no mercado de biografias. O escritor Ignácio de Loyola Brandão já escreve vários livros institucionais, entre eles a biografia de Olavo Setubal, fundador do Banco Itaú, e um perfil sobre a ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
Sérgio Vilas-Boas, um dos maiores teóricos do gênero, lançou recentemente Doutor Desafio, trajetória do empreendedor Luiz Alberto Garcia, biografia com pegada de perfil, encomendada pelo Centro de Memória Algar, ligado ao empresário.