Editorial - Cândido 85

Uma nova geração de autores argentinos pede passagem. O país que recentemente perdeu um de seus escritores mais brilhantes, Ricardo Piglia, morto em 2017, vê a literatura local andar a passos largos. Muitos desses ficcionistas já alçaram voos altos, sendo traduzidos em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. É o caso de Selva Almada e Santanta Schweblin, cujas obras o escritor Carlos Henrique Schroeder destaca no ensaio que escreveu para esta edição. 

Atento à produção literária do país vizinho, Schroeder passeia por diversos períodos e autores e, claro, joga luz na trajetória e influência de Jorge Luis Borges, que de tão grande, acabou se tornando uma barreira para novas gerações durante muitas décadas. “A literatura argentina é borgeana. Ponto. Nada escapa da sombra de Borges”, diz o autor do romance As fantasias eletivas (2014). Ainda assim, os jovens autores têm surgido em grande quantidade, muitos deles, afinados com os novos tempos, encontrando guarida em pequenas editoras. Pedro Mairal, Miguel Vitagliano, Ricardo Zelarayán e Marcelo Birmajer são alguns dos nomes que merecem ser conhecidos no Brasil, segundo Schroeder.

  Foto: André Feltes
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Ampliando a discussão sobre a nova literatura argentina, Ronaldo Bressane entrevista o crítico, escritor e acadêmico Daniel Link, que fala mais sobre o atual momento da prosa de seu país. A tradutora Mariana Sanchez, que vive em Buenos Aires desde 2015, assina tradução de um trecho do romance Eisejuaz, clássico de Sara Gallardo que será publicado em setembro no Brasil pela editora Relicário.

Outro destaque da edição é a entrevista da série Os Editores, com Ivan Pinheiro Machado (foto), fundador da editora gaúcha L&PM. Na conversa com o editor do Cândido, Luiz Rebinski, ele relembra os primeiros passos da empresa até chegar ao atual catálogo, com mais de 3 mil títulos. E fala sobre como popularizou autores underground a partir de Coleção Pocket, um dos maiores sucessos editoriais do país.

Uma das obras mais incomuns do legado de João Cabral de Melo Neto está prestes a completar 30 anos. O livro em questão, Sevilha andando, é tema de reportagem do escritor e jornalista Marcio Renato dos Santos. Ele entrevista críticos e leitores que falam sobre as particularidades da obra mais lírica do antilírico João Cabral.

Outro poeta, o gaúcho-paranaense Glauco de Flores de Sá Brito, é personagem de um perfil assinado pelo jornalista José Carlos Fernandes. Radicado em Curitiba a partir dos anos 1930, Glauco marcou a vida cultural da cidade ao transitar por várias áreas, como teatro, TV e literatura.

Entre os inéditos, o Cândido publica conto de Otávio Duarte, poemas de Otto Leopoldo Winck, Eweron Martins Ribeiro, Ana Elisa Ribeiro e Dylan Thomas, em tradução de Gilmar Leal Santos. A ilustração da capa é assinada pelo artista Índio San.

Boa Leitura.