Editorial - Cândido 84

Sérgio Sant’Anna ajudou a ampliar os horizontes do conto brasileiro nos anos 1970 com uma prosa que mistura ensaísmo, poesia, autoficção e que flerta com o teatro e as artes plásticas. Fez isso no primeiro livro, O sobrevivente, de 1969, e segue destilando um amplo repertório de temas e formas há quase 50 anos. 

Aos 76 anos, SS parece estar no auge de sua forma. É o que mostram seus mais recentes trabalhos — O homem-mulher (2014), O conto zero e outras histórias (2016) e Anjo noturno: narrativas (2017), obras que surpreenderam por revelar um Sérgio Sant’Anna disposto a falar de si mesmo, sem deixar de lado a excelência literária que é sua marca. 

No perfil feito para o Cândido pelo jornalista e escritor Alvaro Costa e Silva, o autor reafirma sua profissão de fé: “A cada nova obra, procuro fazer alguma coisa diferente. Do contrário, perderia a graça”. Sant’Anna também fala sobre a rotina de escrita (“escrevo todos os dias, mas só um pouquinho”), a quantidade absurda de livros de ficção publicados no mercado brasileiro (“a banalização total do fazer artístico”) e a respeito do envelhecimento (“o insuportável é o sofrimento, a decrepitude”).
                                                                                                                                                                                                                                                                                                        Foto: Sergio Caddah
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Costa e Silva também ouviu escritores de diversas gerações, como Joca Terron, que fala sobre a descoberta tardia da obra de SS, e Jaime Prado Gouvêa, que relembra vivências da juventude em Minas Gerais ao lado de Sant’Anna. Já o crítico Alcir Pécora, em breve análise, ressalta o aspecto múltiplo da prosa do autor mineiro, em contraste com outros contistas da mesma geração. Para completar o especial, André Sant’Anna, filho de Sérgio, publica conto em que o pai é um dos personagens.

A edição ainda conta com a transcrição do bate-papo com o gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, que abriu, em maio, a temporada 2018 do projeto Um Escritor na Biblioteca. Na série “Os Editores”, outro veterano da literatura nacional, Jiro Takahashi [foto], resgata alguns momentos vividos ao longo de 52 anos de atuação no mercado editorial. E uma reportagem revela algumas narrativas de ficção que fizeram a cabeça da geração que viveu o agitado ano de 1968.  

Entre os inéditos, o Cândido publica poemas de Marilena Castro, Lívia Marangoni, Tarso de Melo e Niels Hav, em tradução de Edivaldo Ferreira e Matheus Peleteiro.

Boa leitura.