Editorial - Cândido 62

Irvine Welsh tornou-se uma celebridade literária em 1993, quando lançou seu primeiro livro, Trainspotting, romance que vendou mais de 1 milhão de exemplares somente no Reino Unido. O sucesso foi ampliado três anos mais tarde, quando Danny Boyle adaptou a história para os cinemas e transformou o filme em cult. 

Welsh, desde então, tem sido aclamado como uma das vozes mais representativas de sua geração. O autor escocês cunhou um estilo de narrar a partir da própria vida errante em um bairro proletário de Edimburgo, sua cidade natal. O universo das drogas, a falta de perspectivas dos jovens e as contradições de uma vida pautada no esquema “trabalho- família-consumo” deram as bases para a literatura que o escritor continua produzindo e que encontra ressonância em leitores do mundo todo. 

Mais do que um “escritor pop” ligado em tendências da música e do cinema, Welsh é um criador que expõe os dramas da sociedade contemporânea. É sobre isso que trata o jornalista Bruno Cobalchini Mattos no ensaio publicado nesta edição do Cândido. Ele mostra como a obra de Welsh se desenvolveu a partir do modelo social que, no Reino Unido, atingiu seu ápice a partir do governo da primeira-ministra Margaret Thatcher (1925-2013). “É importante frisar que os romances de Welsh estão longe de ser panfletários. São radicalmente críticos, mas não do tipo que oferece alternativas ou respostas fáceis. Pelo contrário: a maioria de suas obras apresenta múltiplos narradores com pontos de vista antagônicos”, escreve Mattos. 

Depois de 20 anos da estreia de Trainspotting nos cinemas, uma nova e aguardada sequência da história já está em produção e tem lançamento previsto para janeiro de 2017 no Reino Unido. O jornalista Omar Godoy analisa o impacto que T2 pode causar no cenário atual, radicalmente diferente ao dos anos 1990, quando o primeiro longa foi lançado. 

A 62ª edição também traz uma longa reportagem sobre os 130 anos de nascimento de Manuel Bandeira. O texto repercute a opinião de vários estudiosos do poeta e discute, entre outras questões, a relação de Bandeira com a geração de escritores modernistas e como, hoje, o legado do autor é absorvido pelo leitor contemporâneo brasileiro. 

Na seção Perfil do Leitor, o diretor baiano Aly Muritiba fala sobre suas preferência literárias e das adaptações cinematográficas que prepara para livros de Daniel Galera, Lourenço Mutarelli e Raphael Montes. 

Entre os inéditos, o Cândido antecipa poemas do próximo livro de Adriana Lisboa, Uma pequena música, que será lançado no primeiro semestre de 2017 pela editora Iluminuras. A curitibana Vanessa C. Rodrigues também aparece com sua produção poética. Na prosa, a edição traz trecho do romance Homens elegantes, a mais recente longa narrativa de Samir Machado de Machado, que a Rocco publica durante o mês de setembro, e texto de Leonardo Villa-Forte. 

Boa Leitura.