Editorial

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Eduardo Spohr (foto) é um fenômeno. Desde 2010, quando fez sua estreia por uma grande editora, já vendeu mais 700 mil títulos dos livros que escreve sobre mundos e civilizações fantásticas. Números que não combinam com a literatura brasileira contemporânea, acostumada com a triste realidade do encalhe. Mas até que o “fenômeno Spohr” se consolidasse, houve um longo caminho para a literatura de fantasia / fantástica no Brasil.

É sobre esse tortuoso trajeto de um gênero pouco compreendido e até mesmo desprezado, que o Cândido fala nesta edição. O pesquisador Bruno Anselmi Matangrano escreve um elucidativo ensaio mostrando as origens do gênero no Brasil, os nomes que inspiraram nossos autores e como, através do tempo, esse tipo de literatura foi se ramificando em diversos subgêneros.

Matangrano identifica em livros como A filha do inca, de Menotti del Picchia (1892-1988), uma narrativa que já flertava com a fantasia. E analisa, também, autores como Monteiro Lobato (1882-1948) e Mário de Andrade (1893-1945) a partir das características fantásticas de obras como Macunaíma e Sítio do Pica-Pau Amarelo, ambas tendo como pano de fundo um Brasil fictício, povoado por seres fantásticos.

Já o autor Thiago Tizzot escreve sobre o cenário atual da literatura de fantasia, os principais autores e como esse mercado, que inclui diversos outros produtos e eventos, se modificou e cresceu no país nos últimos 20 anos. Por fim, uma reportagem mostra o surgimento de selos e editoras brasileiras especializadas no gênero.

A 55ª edição do Cândido também traz outros conteúdos, como a matéria que resgata a trajetória do lendário cartunista Alceu Chichorro, um dos nomes mais importantes da imprensa paranaense. Já a fotógrafa Vilma Slomp revela suas preferências literárias na seção “Perfil do Leitor”. E o também fotógrafo e artista visual Tom Lisboa publica um ensaio de seu “Projeto Cinematógrafo”, onde molduras coloridas foram penduradas em vários locais de Curitiba para que o espectador experimentasse uma sensação de “cinema ao vivo”.

Entre os inéditos, destaque para o longo conto de Otávio Duarte e as narrativas de Eric Novello e Enéias Tavares, dois dos principais nomes da literatura de fantasia no Brasil.

Boa leitura.